segunda-feira, 25 de maio de 2009

Perdido a Alma

Arrumei meus cabelos na forma de um coque, engoli um pedaço de pão com pouca manteiga e, para não engasgar, tomei um café com leite frio. Alcancei minha bolsa, peguei meus sapatos e dei um beijo apressado na minha mãe, recusando um pedido de conversa, estava atrasada demais. Desviei das árvores, dos postes e das pessoas que atrapalhavam o desembarque do transporte. Corri para chegar ao trabalho, para fechar a matéria, para não perder a 1ª aula, para chegar em casa. Corri para dormir.

Acordei correndo para tomar café, para tomar banho, para escolher a roupa, para não perder o sábado. Aliás, a semana passou correndo. Fiz um monte de coisa, com a sensação de não ter feito nada, por isso fiz mais ainda. E ao passo que me desdobrava em sete, mais tinha coisa para fazer. Não tinha estudado, não vi meus amigos, o filme alugado continuava na estante, a dieta grudada na geladeira, os sapatos novos na caixa. A agenda lotada, a vida compromissada e ela cobra. A vida cobra.
Me faltou ar. Corri para garagem e peguei o carro, corri para farmácia e peguei remédios, corri para o caixa e esvaziei a carteira. Corri para pegar água e engolir os comprimidos, as gotas salgadas, a mágoa. A mágoa de ter feito tudo e nada! A dor de ter ganhado o mundo e perdido a alma. E perdido a alma, que mágoa.
Por Natália Oliveira