segunda-feira, 25 de maio de 2009

Perdido a Alma

Arrumei meus cabelos na forma de um coque, engoli um pedaço de pão com pouca manteiga e, para não engasgar, tomei um café com leite frio. Alcancei minha bolsa, peguei meus sapatos e dei um beijo apressado na minha mãe, recusando um pedido de conversa, estava atrasada demais. Desviei das árvores, dos postes e das pessoas que atrapalhavam o desembarque do transporte. Corri para chegar ao trabalho, para fechar a matéria, para não perder a 1ª aula, para chegar em casa. Corri para dormir.

Acordei correndo para tomar café, para tomar banho, para escolher a roupa, para não perder o sábado. Aliás, a semana passou correndo. Fiz um monte de coisa, com a sensação de não ter feito nada, por isso fiz mais ainda. E ao passo que me desdobrava em sete, mais tinha coisa para fazer. Não tinha estudado, não vi meus amigos, o filme alugado continuava na estante, a dieta grudada na geladeira, os sapatos novos na caixa. A agenda lotada, a vida compromissada e ela cobra. A vida cobra.
Me faltou ar. Corri para garagem e peguei o carro, corri para farmácia e peguei remédios, corri para o caixa e esvaziei a carteira. Corri para pegar água e engolir os comprimidos, as gotas salgadas, a mágoa. A mágoa de ter feito tudo e nada! A dor de ter ganhado o mundo e perdido a alma. E perdido a alma, que mágoa.
Por Natália Oliveira

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sala de bate papo

Eu sempre chego cedo ao laboratório de informática da faculdade, também pudera, trabalho nela. Enquanto tô aqui, fazendo o que não me faz falta, tem gente em pé, esperando a vez. Isso me lembra algo!! Os tempos de internet da minha adolescência. A gente se amontoava em frente ao computador e, aos gritos, gargalhadas e mãos gélidas, conversávamos com os fotogênicos da net. “Esse é feio. Vamos conversar com outro”.
Era engraçado e transformador. Antes de entrar nos chats, combinávamos os nomes e os “eus”. E na primeira conversa éramos loiras e morenas de olhos claros com cabelos Liiiisos. Magras, surfistas, extrovertidas, resolvidas e maduras, beirando os 22. Ôia! [Risos]. Acha que pode? É não pode.
Algumas vezes passamos o telefone e, quando o fulaninho de lá, vinha com uns papos de beijo na boca, a gente logo dava jeito de desligar. E se ele pensasse que a ligação tinha caído e insistisse “manhêêêêêê”. [Risos].
Cada dia era um dia, uma foto, um perfil de “mulher”, mas teve um que virou o 1. Lembro até hoje do “Sem Nick”. Simpatizamos com o menino e só não marcamos um encontro pq. não achamos uma garota loira dos olhos claros, magra, atleta e meiga. [Risos]. Mas ligávamos para ele de vez em quando. Teve até um dia que simulamos uma viagem. Nos encontramos no meu quarto e... “ ‘Alô, Sem Nick’”.
O coitado do menino atendeu e a "paiaçada" começou. Batemos portas, derrubamos CDs, ligamos a televisão. Tava tudo muito agitado, sabe? Uma correria danada! "De onde veio essa ideia? Ah. Você já foi adolescente, vá! "E toda a papagaiada não foi suficiente, posicionei o telefone bem perto da boca e gritei: “cadê minha caaalça”, fiz um gesto para que a minha amiga viesse e ela gritou em resposta “eu pegueeeeeei”. Desconfio que isso não fez bem aos ouvidos dele. [Risos].
Adolescentes, adolescentes. E quando...Ops! 18h40. Preciso ir!
Até uma próxima!
Por Natália Oliveira

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Dia-a-dia

Antes de sair de casa conferi tudo: sanduíches, toalha, sucos engarrafados e livros. Tudo certo. Abri a porta e, depois de chamar o elevador, voltei para pegar o repelente. O tempo estava ameno, por isso fiz questão de esquecer a blusa de malha solta em cima da mesa. Deixei o prédio. A rua estava movimentada, mas ainda sobrava um espaço para uma ciclovia improvisada. Pedalei.
Acostumada com o percurso, cheguei sem problemas a casa dela. Antes que pudesse alcançar a campainha, ela já afastava as cortinas da janela espaçosa. Sempre achei intrigante a maneira dela de perceber minha presença. “Os estalos do seu joelho não negam”, dizia Com movimentos lentos, o portão de metal era escancarado e davam vez ao momento mais esperado: o abraço.
Juntas atravessamos o jardim e juntas colhemos algumas margaridas e violetas, que ganharam um espaço no vaso colorido. A toalha, as frutas, os sucos e os sanduíches se misturaram aos passarinhos, que pousavam na mesa de madeira. Sentamos e, em meio às gargalhadas, contamos os casos da semana. O céu estava azul claro e o clima parecia regulado a mão.
A tarde caiu e, sem pressa, nos despedimos. O portão se fechou e, eu me entreguei novamente à rua movimentada, à ciclovia imaginada. Não tinha pressa e nem anseios, tinha apenas um coração batendo forte no peito. Deixei o trabalho sem explicação e encontrei o sentido da vida na alegria de um ancião.
Por Natália Oliveira

terça-feira, 19 de maio de 2009

Paciência - Lenine

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não pára. Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso faço hora, vou na valsa. A vida é tão rara. Enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que isso tudo é normal. Eu finjo ter paciência. O mundo vai girando cada vez mais veloz. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós. Um pouco mais de paciência. Será que é tempo que lhe falta prá perceber?Será que temos esse tempo prá perder?E quem quer saber?A vida é tão rara. Tão rara. Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma. Eu sei, a vida não pára. A vida é tão rara!...
Por Natália Oliveira

sábado, 16 de maio de 2009

Anjos Urbanos

Sábado à tarde. Chego ao ponto de ônibus com algumas certezas: fome e arrependimento. Estou em um lugar desconhecido, fiz as contas erradas e, agora, preciso torcer para que exista algum ônibus capaz de me levar numa “tacada” só para casa. Caso não dê, encontrar um ponto conhecido nessa imensidão de cidade já vale. Os primeiros dez minutos passam e, cansada de esperar, passo a observar as formigas, que se perdem em meio à calçada.
Olho no relógio do celular sem crédito, já se passaram trinta minutos desde que cheguei. To cansada. Acordei cedo. Comi às pressas. Corri para pegar o metrô e me peguei correndo para sair dele. Mas talvez, agora, era hora de descansar. Dei sinal. Enquanto conversava com o motorista, minhas pernas tremiam, não sabia ao certo se de fome. Precisaria pegar dois ônibus.
Entrei. Sentei no primeiro banco que avistei, antes da catraca, ao lado do cobrador. Ao arrumar a bolsa no colo, ouvi meu celular tocar. Meu namorado. Atendi e despejei nos ouvido dele mais de 10 lamentações por segundo. Prestativo se ofereceu a me ajudar. Eu disse que pensaria como, ele prometeu que me ligaria em instantes.
Depois de algumas esquinas, algumas quebradas e semáforos, a Pinacoteca! Levantei, recolhi as moedas no bolso e estendi a mão ao cobrador. Ele recusou e gritou ao motorista que deixasse “a moça descer pela frente”. Insisti, ele também. “Vai com Deus”. Desci tonta e grata, só precisaria pegar o metrô e esperar o meu namorado ligar. Ele poderia me pegar em uma das estações.
Caminhei até a cabine de venda dos bilhetes e percebi que o meu dinheiro ainda não era o suficiente. Faltava centavos, mas não tinha negócio, precisava. Usei a escada próxima. Mais uma ligação. Combinado, nos próximos 40 minutos em frente à catraca. Para passar o tempo, alguns passos pela rua. Lojas, vendedores ambulantes, lanchonete. Salgado e suco R$1,00. Minha barriga roncava.
Sentei em um dos bancos do balcão. Estava com fome, mas a sede era maior. Um homem de uniforme e sorriso no rosto veio me atender. Escolhi. O suco veio e desapareceu em três goles. O buraco no estomago aumentava. Perguntei o preço da coxinha. Ele disse, eu pedi. Enquanto comia, ele virava o rosto para todos os cantos da lanchonete, como se procurasse algo, ou alguém. Quando garantiu a ausência, me pediu o copo, eu lhe entreguei. Ele encheu e me devolveu com um sorriso “para você não comer a seco, tá?”.
Sei que, por mais que junte muitas moedas, não poderei retribuí-los por todo o cuidado, mas garanto que não sou mais a mesma desde que me encontrei com vocês, anjos urbanos. Por Natália Oliveira

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Princípe da Paz

Tudo mudou de lugar e eu nem sei como lidar. Faz tempo que não me sinto assim, deslocada desse jeito. A última foi ainda na infância, em uma daquelas festinhas de criança, sabe? Um monte de cadeiras, a música tocando e a gente tinha que correr para sentar. Quando não conseguia, balançava os braços e, meio sem graça, aceitava. Agora já não dá para parar, a roda de gigante continua a rodar. Nada parece com o que passou. O mundo pegou um caminho, que ele mesmo trilhou e quem acompanhou? Eu sei que eu tava tão quietinha nos meus planos, nos meus sonhos, nos meus desejos e agora? E agora? Ele tá vindo. Os noticiários não negam, os desastres naturais nos despertam, a vida tá indo embora e agora? No auge do desespero, do medo do contratempo, eu dobro os meus joelhos, prendo os meus cabelos e oro. E ai eu volto para o mesmo lugar. Você continua a me olhar. Você sabe que comigo só Você sabe lidar.
Por Natália Oliveira

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sinto Falta

Eu sinto saudades dos banheiros sem espelhos e da ausência das toalhas, saudades de secar as mãos ao vento. Da maneira engraçada de segurar a porta sem trinco, de gritar com os garotos “chatinhos” e de lavar o rosto sem sabonete. Falta das conversas infantis e cheias de emoção, dos pratos de plástico com macarrão e dos courinhos nos joelhos. Das risadas cheias de barulho, das brincadeiras bobas e sem maldade, das amizades que fiz e que me fizeram. Hoje, sinto falta dos salgadinhos no recreio, da lata de coca que rolava solta no pé, dos doces industrializados da cantina, da fila, da pressa, da alegria. Sinto saudade daquilo que vivi intensamente, sem pressa, sem gana, sem nada. Daquela música que tocava em outra sintonia, em um tom mais leve, mais sereno, mais humano. Desejo de voltar no tempo e conversar sobre “o que eu quero ser quando eu crescer”, de resgatar aquelas tardes de história, de escola. Vontade de observar as formigas fazerem seus trajetos, de jogar papel higiênico molhado no teto, de me perder a olhar o céu. Quero voltar a tomar sorvete com água. Quero encontrar aquela multidão no mesmo lugar, com o mesmo olhar, com o mesmo desejo, com a mesma mochila. Eu sinto saudades daquela falta de padrões. Eu sinto saudade das minhas emoções. Eu sinto saudade daquele mundo mágico, fora de órbita. Sinto saudade daquilo que vivi intensamente, sem pressa, sem gana, sem nada.. Se tivessem me contado como era bom ser criança ... Por Natália Oliveira