quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Retrospectiva

Muita coisa poderia ter sido diferente...
Vários planos ficaram pelo caminho e mais uma vez vou ter que refazê-los, achando espaço entre tantos outros que ficaram para trás. Deu uma preguiça danada, quando não era para dar. E tive disposição para começar e concluir coisas que poderiam, ou melhor, nem deveriam ter acontecido. Cheguei atrasada, perdi oportunidades, desfiz planos, abandonei caminhos por medo e por desleixo. Descobri meu lado chato, intolerante, e briguei feio com ele, até fazer as pazes de novo. Redescobri o prazer do exercício físico e logo entendi que nunca teremos uma boa relação. Ou teremos? Quem sabe.
Aprendi a ter coragem para romper ciclos, para aceitar o doído e para esquecer todas as vantagens de ser forte. Apresentei-me - ou me foi apresentado – à minha parte escura e foi uma das coisas mais bonitas que poderiam ter feito por mim esse ano. Conheci lugares, conheci pessoas, juntei várias gentes numa gente só. Admirei o quadro bonito que faz a singularidade compartilhada, sem podas. Fiz novos amigos, reforcei os laços com os velhos e aprendi que estarão comigo para sempre, se der. Prometi a mim e aos outros uma liberdade próxima e senti o gosto doce da palavras "tentei".

Do mais. Continuo achando que o tempo é curto. E que viver é tão simples que a gente confunde tudo. E que por isso a gente perde tempo demais tentando entender, quando a vantagem de ser gente é sentir.

Por Natália Oliveira

domingo, 17 de julho de 2011

Central


A questão central não se divide em certo e errado, mas em escolher e não escolher. Em decidir ou não decidir. Os abismos existem e durante toda a vida nós devemos optar por uma das mil maneiras que temos de atravessá-los. Ou de não atravessá-los. A verdade é que a gente precisa decidir. E ai, automaticamente, a gente decide quem estará ao nosso lado.

Por que no fundo, ninguém se afasta de ninguém. A distância nasce no virar de pés, nos horizontes extremos, nas prioridades contrárias, nas importâncias invertidas. É a moeda de troca. É o momento que você decide o que é realmente valioso para você, o que é prioridade, o que continua e o que fica para trás. Então você decide os pesos das suas renúncias e se responsabiliza pela falta que elas te causam. É tudo muito simples.
Sempre existem escolhas e elas são sempre nossas.


Por Natália Oliveira

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pedaços de Caminho

Mergulho no meu inteiro e recolho todos os pedaços que um dia me foi todo. Junto todos eles aos meus pés e, com a paciência que tomo de volta da correria que passa depressa, tento encaixá-los um a um.
Mudo a ordem, jogo a frente para o verso e inverto as pontas, mas eles se jogam para um lado e para outro, recusando-se à velha entrega. Tento por várias vezes seguidas devolvê-los à forma que sempre tiveram, mas eles simplesmente me negam.
Tomada pelo desconforto, de repente sou a criança que num instante conhece e reconhece a necessidade de crescer, mas que não sabe, ainda, ao certo como. Aliás, o que não sabe é como preencher os vazios, se é que existe alguma necessidade de preenchê-los.
Rendo-me à água que vem para renovar o mergulho no inteiro e da cascata se fazer um novo ciclo. Permito-me escorrer, enquanto tudo se dissolve como água com açúcar. E em um instante contemplo o riso salgado nascido no berço divino da transformação.
Dor e felicidade se confundem. Saudade e desprendimento se laçam e eu aciono o super-herói esquecido, que cura levemente a carne viva. Aos poucos me liberto, me arrisco, forço-me e lanço um último olhar para a correnteza que leva os pedaços antigos embora.
Recomponho-me com as pernas bambas, mas dignas de uma nova caminhada. E num fechar de olhos agradeço todos aqueles fragmentos que um dia me foram escudo.
Enxugo a última gota que dá aos lábios o gosto salgado e desejo boa sorte para o futuro, porque como avisado foi, os meus pés já estão calçados. A respiração me enche o peito todo e com a força que me renova empurro a porta com um chute só. O mundo inteiro se apresenta, como uma miniatura.
Soluço de susto e neste momento sou exatamente metade segura, metade desconhecido, metade medo e inteira vontade.
Apresento-me e não me desculpo pela demora, nunca fui de acelerar os meus processos. Em resposta ele apenas me olha e em um silêncio falado, me ordena: explore-me.
Um brinde aos ciclos que me encantam os caminhos da vida.
Por Natália Oliveira

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ali

E naquele exato momento sentiu que tudo que precisava aprender sobre a vida estava exatamente ali, naquele instante preciso. Tudo moldado em um pedaço de madeira, como um porta-retrato: suco de maracujá, pães torrados e mortadela. Tudo misturado em um em uma única pose, em um único gesto.

Tudo exatamente ali: pai, mãe e ela.

Por Natália Oliveira

sábado, 28 de maio de 2011

Bailarinas


Ela arrumou o travesseiro dobrado embaixo da cabeça e olhou para a janela que, naquele momento, era metade cortina, metade fim de tarde. O sol aparecia tímido e frio atrás do prédio da rua vizinha e o céu azul se enrolava nas nuvens brancas em uma cumplicidade bonita. Sem desviar o olhar, puxou os cobertores para os ombros e sorriu para o que via.
Nunca foi de elogiar dias de inverno, mas sentia que, de uma forma coletiva, a criação se empenhava em experimentar o melhor que sabia, por que ela a contemplava. Como o ator que depois de tantos convites fracassados de repente vê a menina a ser conquistada na plateia sorrindo e por isso experimenta tudo que pode em um gesto só.
Feliz por ter um palco em sua janela, mexeu os pés vestidos de pantufas e riu para o silêncio tão falante daquilo que vivia. Virou o rosto, deixando os cabelos recém escovados escorregarem, e fechou os olhos para que as bailarinas, finalmente, deixassem a timidez e tirassem sua alma para dançar
Em um impulso de quem quer ficar, levantou e olhou de perto tudo aquilo de novo, antes que a noite brilhante chegasse com a lua no colo. E como quem está feliz verdadeiramente seguiu para a cozinha, alcançou o pote de torradas em cima da geladeira, lambuzou de manteiga meia dúzia de pedaços de pão torrado e por fim misturou preto e branco em uma xícara de porcelana que estampava o Cristo redentor.
Agarrou tudo, respirou fundo, sentou com as pernas de índio na cadeira e com um gole de felicidade genuína brindou a apresentação das bailarinas.

Por Natália Oliveira

sábado, 9 de abril de 2011

Re-sigo


É a delícia de saber que a criança foi embora, mas deixou rosas e um lembrete na porta: “quando encontrar pessoas pequenas e espinhos de graça, volta.”
E sem correr, sem buscar a calma em vidro, sem perder tempo com o já perdido, sem estourar os neurônios com pensamentos sem sentido...volto, mudo e re-sigo.
Re-sigo por que as velhinhas que conversam na praça esperam a vida sem olhar no relógio.
Re-sigo porque o menino negrinho olha o vira-lata e enche a boca de riso.
Re-sigo para beber água na bica, direto da fonte, já que, se antes eram poucos, agora não me restam copos para encher com tempestades.
Re-sigo.
Por Natália Oliveira

domingo, 13 de março de 2011

Retrato


É a paz que às vezes se apodera da minha alma.

Com os dentes recém-caídos ela desenha um sorriso enquanto eu tento descobrir o que carrega nas mãos sujas de chocolate e terra. Aperta os dedidinhos mostrando, sem perceber, que ali nada sobreviveria, mas nego acabar com o momento. Chuto coisas absurdas: “carro?”, “bola?”, “patins?”. Ela arregala os olhos a cada tentativa e balança a barriguinha que nunca viu chuchu, numa risada de último volume que me desarma inteira. Solto as últimas coisas que prendem a alegria e digo em voz alta: “viver é breve e é bom, né?”. Ela olha meus olhos marejados e abraça com os dedinhos melecados de marrom minhas pernas. Observo-a de cima. Cabelos embaraçados, calça levemente surrada, coração pulsante e falta de vontade de controle. Agacho, estonteante ela pede para ficar. Arrumo um espaço no centro de tudo e ela, com o sorriso aberto, me pede: "me acolha para sempre e me chame de paz. Sua paz”.
Ao Criador da minha!



Por Natália Oliveira

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Feliz, muito feliz, aniversário

E eu chegou aos 24 anos em paz e de pazes comigo. Feliz por ter vivido coisas tão bonitas. Nem sempre sem pontas ou asperezas, mas bonitas pq. de uma forma ou de outra me somaram peças ao quebra-cabeça que formo. Chego aos 24 anos com o coração aos pulos, com as mãos tremulas e com os gritos, chamados pelos amigos de sindicais. huahuahuaauhahuhua. E eu dou risada alto e agradeço a Deus pelos amigos. Meus presentes diferentes, pulsantes, alegres e fundamentais para toda e qualquer caminhada que trilhei e que ainda vou trilhar.
Chego aos 24 anos quebrando qualquer ideia de inferno astral, de depressão do ciclo novo, de tristeza sem nome. Chego FELIZ da forma mais genuína e verdadeira que me cabe. Feliz pq. apesar de louco e angustiante, algumas vezes, viver, no sentido mais literal que isso tem, é uma das coisas mais gostosas que já experimentei. E eu sou grata a Deus por ter me dado o dom da vida, por caminhar ao meu lado e somar ao nosso grupo pessoas maravilhosas!
Enfim, FELIZ!
Um brinde às nossas vidas.
Por Natália Oliveira

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Existência

Passados 14 dias do ano novo, digo: 2010 foi um ano bom. Consegui olhar para dentro de mim mais de uma vez e dessas visitas ao interior nunca voltei de mãos vazias. Em uma delas trouxe as armaduras usadas diante de pessoas tão frágeis quanto eu. Trazê-las à margem me custou um pouco, eram pesadas e machucavam meus braços, mas mesmo assim, bravamente – ainda que no momento me sentisse fraca– persisti.
Jogá-las no lixo não me pareceu difícil, doloroso mesmo foi perceber que, mesmo com o corpo nu e sem estoques, ainda carregava na pele a proteção. Arrancá-la encharcou meu vestido de lágrimas e o meu coração de vazio. Por um tempo, que me pareceu infinito, senti o chão desprender dos meus pés, mas sobrevivi com toda a humanidade que me cabe, caindo, ralando os joelhos e curando-os com merthiolate e band-aid.
Hoje consigo resistir às capas de super-herói, mesmo quando estão em liquidação, e mandar meus pensamentos acusadores para uma colônia de férias, quando passarem dos limites. Posso ouvir meus gritos internos, mesmo quando o barulho exterior é alto e me respeitar, mesmo quando o mundo prefere nomear esse gesto de egoísmo. Consigo me enxergar claramente, sei das minhas rosas, mas também reconheço meus espinhos e é nesse bosque que passeio em busca de respostas para a minha doce, cítrica, confusa e pulsante existência.
Por Natália Oliveira

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Passo

É a hora da travessia, de pegar as rédeas, de mudar o destino, de acreditar no novo dia que vem. E ele vem. Ele vem para os que acreditam e caminham na direção de novos horizontes. Que não esperam, que não só desejam, mas que buscam! Um lamento aos obstáculos, já vesti meus pés.
Por Natália Oliveira