Antes de sair de casa conferi tudo: sanduíches, toalha, sucos engarrafados e livros. Tudo certo. Abri a porta e, depois de chamar o elevador, voltei para pegar o repelente. O tempo estava ameno, por isso fiz questão de esquecer a blusa de malha solta em cima da mesa. Deixei o prédio. A rua estava movimentada, mas ainda sobrava um espaço para uma ciclovia improvisada. Pedalei.
Acostumada com o percurso, cheguei sem problemas a casa dela. Antes que pudesse alcançar a campainha, ela já afastava as cortinas da janela espaçosa. Sempre achei intrigante a maneira dela de perceber minha presença. “Os estalos do seu joelho não negam”, dizia Com movimentos lentos, o portão de metal era escancarado e davam vez ao momento mais esperado: o abraço.
Juntas atravessamos o jardim e juntas colhemos algumas margaridas e violetas, que ganharam um espaço no vaso colorido. A toalha, as frutas, os sucos e os sanduíches se misturaram aos passarinhos, que pousavam na mesa de madeira. Sentamos e, em meio às gargalhadas, contamos os casos da semana. O céu estava azul claro e o clima parecia regulado a mão.
A tarde caiu e, sem pressa, nos despedimos. O portão se fechou e, eu me entreguei novamente à rua movimentada, à ciclovia imaginada. Não tinha pressa e nem anseios, tinha apenas um coração batendo forte no peito. Deixei o trabalho sem explicação e encontrei o sentido da vida na alegria de um ancião.
Por Natália Oliveira