Sábado à tarde. Chego ao ponto de ônibus com algumas certezas: fome e arrependimento. Estou em um lugar desconhecido, fiz as contas erradas e, agora, preciso torcer para que exista algum ônibus capaz de me levar numa “tacada” só para casa. Caso não dê, encontrar um ponto conhecido nessa imensidão de cidade já vale. Os primeiros dez minutos passam e, cansada de esperar, passo a observar as formigas, que se perdem em meio à calçada.
Olho no relógio do celular sem crédito, já se passaram trinta minutos desde que cheguei. To cansada. Acordei cedo. Comi às pressas. Corri para pegar o metrô e me peguei correndo para sair dele. Mas talvez, agora, era hora de descansar. Dei sinal. Enquanto conversava com o motorista, minhas pernas tremiam, não sabia ao certo se de fome. Precisaria pegar dois ônibus.
Entrei. Sentei no primeiro banco que avistei, antes da catraca, ao lado do cobrador. Ao arrumar a bolsa no colo, ouvi meu celular tocar. Meu namorado. Atendi e despejei nos ouvido dele mais de 10 lamentações por segundo. Prestativo se ofereceu a me ajudar. Eu disse que pensaria como, ele prometeu que me ligaria em instantes.
Depois de algumas esquinas, algumas quebradas e semáforos, a Pinacoteca! Levantei, recolhi as moedas no bolso e estendi a mão ao cobrador. Ele recusou e gritou ao motorista que deixasse “a moça descer pela frente”. Insisti, ele também. “Vai com Deus”. Desci tonta e grata, só precisaria pegar o metrô e esperar o meu namorado ligar. Ele poderia me pegar em uma das estações.
Caminhei até a cabine de venda dos bilhetes e percebi que o meu dinheiro ainda não era o suficiente. Faltava centavos, mas não tinha negócio, precisava. Usei a escada próxima. Mais uma ligação. Combinado, nos próximos 40 minutos em frente à catraca. Para passar o tempo, alguns passos pela rua. Lojas, vendedores ambulantes, lanchonete. Salgado e suco R$1,00. Minha barriga roncava.
Sentei em um dos bancos do balcão. Estava com fome, mas a sede era maior. Um homem de uniforme e sorriso no rosto veio me atender. Escolhi. O suco veio e desapareceu em três goles. O buraco no estomago aumentava. Perguntei o preço da coxinha. Ele disse, eu pedi. Enquanto comia, ele virava o rosto para todos os cantos da lanchonete, como se procurasse algo, ou alguém. Quando garantiu a ausência, me pediu o copo, eu lhe entreguei. Ele encheu e me devolveu com um sorriso “para você não comer a seco, tá?”.
Sei que, por mais que junte muitas moedas, não poderei retribuí-los por todo o cuidado, mas garanto que não sou mais a mesma desde que me encontrei com vocês, anjos urbanos.
Por Natália Oliveira
Um comentário:
Naty, momentos assim nos devolvem a alegria de viver e nos fazem crer que o mundo está cheinho de pessoas boas. Parabéns pela sensibilidade amiga...
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