sábado, 8 de agosto de 2009

De volta para mim

Acordei, não feliz por ser sábado. Um cansaço misturado a uma boa parcela de angústia e medo despertou comigo. Sem motivos aparentes e sem coragem para descobri-los, deixei minha casa para um dos compromissos combinados durante a semana.
O sol estava quente, o cigarro dos desconhecidos esfarrapados ao meu lado também. Passei por eles sem me atentar a dor que traziam na alma. O cinza e preto da calçada dançavam em meu olhar. O tom do chão se estendia para os prédios antigos, há algum tempo restaurados. Entrei em um deles.
A palestra não demorou para acabar e nem o meu ônibus para chegar. Aproveitei as revistas, recém-ganhadas e encurtei a viagem lendo-as. Matérias interessantes, Ruy Castro. Por um momento esqueci do meu coração que batia apertado, dos meus olhos ansiosos para ficarem marejados. Meu ponto.
Abri a porta de casa com um desejo incontrolável de deixar tudo que me sufocava do outro lado. Não deu. Atravessei a porta de novo e afundei o botão térreo. Segui a um esconderijo gramado, cheio de forma, que deixaram nascer em meio aos prédios e concreto, daqui. Ali, naquela terra marrom, de verde e rosa, só tinha eu.
Deitei. O céu estava azul claro e eu podia sentir a temperatura do amarelo em meus braços. O som dos pássaros enchiam os meus ouvidos e em minha companhia conversei com eles. Com os joelhos flexionados, mexi os dedos e senti leves cócegas. Um latido sereno, de longe, se mostrava presente. Naquele momento, a natureza me dizia algo.
Me senti à vontade para olhar para mim. Tantas dúvidas, angústias e medos. A cada contato com o meu "eu" um pequeno desespero. Em meio a tantas perguntas sem respostas, um olhar para a pintura sem moldura. Diante de tudo aquilo, nada fazia muito sentido.
Sentei. Alcancei pequenas pedrinhas, que repousavam em minha volta. Fechei os olhos e desejei a presença doce e serena do pintor daquele quadro. Senti que era a hora. Um a um, joguei todas aqueles pedaços brancos. Cada lançamento, um pensamento. Minhas mãos ficaram vazias, meu coração também.
Com uma leveza singular, sai dali. Me encontrei minutos depois numa, das dezenas, piscinas infantis que tem por aqui. Molhei os pés, as canelas. Deixei a água lavar as minhas expectativas, os meus desejos sem fundamento. Deixei ela levar embora todas os meus sonhos alheios, deixei.
Atravessei o portão de ferro. Uma vontade enorme de rir tomou conta dos meus lábios. A alegria brincava comigo e não me deixava enxergar a roupa levemente, suja e molhada. Voltei para casa tempos depois, amiga do universo. Satisfeita. Diante da imensidão, nada faz muito sentido.
Por Natália Oliveira

5 comentários:

Dayse Oliveira disse...

Querida, que texto profundo, que grandeza de alma... Você me levou com você e me lavou na sua água. Parabéns pelo seu dom.

Natália Oliveira disse...

Tudo que a gente precisa para vida já nos envolve, nos cobre.

Ainda bem!

Obrigada pela doce visita.

sblogonoff café disse...

Isso é muito sério mesmo! Diante da imensidão nada faz muito sentido.
É bom que você tenha voltado-se (isso existe!) assim, depressa.
Às vezes eu me perco de mim e no caminho de volta encontro lobos maus e pedras sacanas...
A descoberta e a coragem para deixar ir tudo que é alheio, é bonito! E reconforta. Faz parecer que apesar de não ter sentido, tem jeito!

Abraço,moça que agora tem descrição no perfil!!rsrs
Estou meio atarefada esses dias, metida com uns alemães metidos, mas sempre que posso venho aqui!
Gosto de ler você!

Daniel Savio disse...

É bom ter umas guinadas durante as fazes de tristezas...

Fique com Deus, menina Natália.
Um abraço.

Pensamento aqui é Documento disse...

Mi!

Adoro seu jeito de completar o que, por algum motivo, eu não havi dito.

De tudo que possa acontecer, lute com os lobos e com as pedras, nada que é mal demais pode aparecer.

Venha, adoro sua presença!

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Dani!

É sim.

São pequenas certezas de que tudo é passageiro!

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Obrigada pela presença!

Beiijos