quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Cadê sua mochila?

Eu voltava para casa quando te vi. Eu na janela, você na calçada. Eu de roupa social, sapatos e cara de cansada, você de camiseta azul com o nome no peito. Era Renan? Não lembro. Eu tive pouco tempo. As pessoas desceram rápido e o motorista não esperou eu terminar de olhar. Ele precisava ir, mas eu...queria tanto ficar. Engraçado, você. Sentado, braços abertos, estendidos. Suas mãos seguravam a grade que apoiava o seu corpo, lembra? O que a grade cercava? Você sabe? Era verde, extensa e fazia a segurança de um prédio branco, baixo, que eu não sei o que é e você, sabe? Hei, menino, você sabe?
Eu só consegui olhar para você, pro teu nome escrito a canetinha no branco da etiqueta escolar. Mas cadê a sua mochila, menino? Você não tá com nada para anotar? Cadê a lancheira e a régua pra marcar? Você não trouxe nada? Eu posso ver só os seus olhos e sua pele negra, é o que consigo olhar. E pelo que vejo, não há nada do seu lado, além das mulheres que continuam conversar. Alguma delas é sua mãe? Ou está sozinho? Mas alguém deveria te cuidar, afinal não tem mais de nove anos. Agora eu vou ter que te deixar, pq. o motorista já vai, tá? Antes disto, só preciso saber. Cadê sua mochila menino? Ela deve tá em algum lugar. Vai procurar! De onde onde você tirou a paz que você me dá? Ã? O meu sorriso, eu te dou, se você jurar que vai guardar.
Até de repente, menino.
Feliz Ano Novo todos.
Por Natália Oliveira

3 comentários:

Daniel Savio disse...

Sempre aprendemos na escola da vida, querendo, ou não...

E feliz ano novo.

Fique com Deus, menina Natália.
Um abraço.

Rose Cianci disse...

"Na escola da vida não há férias" - com mochila ou sem mochila - rs.

Feliz Ano TODO, querida Naty!!!

... e até de repente...

Dayse Oliveira disse...

A mochila devia estar no peito, onde carregava histórias difíceis de acreditar... talves seus poucos anos valessem mais que os muitos meus. Que as grades cumpram a função de o proteger...