quinta-feira, 18 de junho de 2009

Passageiro não

Fim de matéria. Agradeço o entrevistado, recolho os papéis estranhamente organizados e atravesso a porta de vidro de mais um consultório de São Paulo. Menos uma, penso enquanto espero o táxi já programado para as quatro. Não sei o que me prende a atenção, mas o toque do celular me desperta. A voz do outro lado avisa, “o motorista está disponível”.
Caminho pela rua movimentada em direção ao carro, que agora enxergo. Nosso primeiro encontro é ali mesmo. Ele está do lado de fora e confirma se quem chegou é quem espera. “Natália?”. “Sou eu”.
Permanecemos quietos por alguns minutos, que a falta de amizade não consegue constranger. Ainda assim, qual o motivo para não conversar? Em menos de dez minutos desfruto de um assunto divertido e contemplo um sorriso quase raro.
Meu companheiro de viagem chama-se Vicente, descubro momentos mais tarde. Sereno, desvia com calma da falta de experiência e da pressa de São Paulo. “A pessoa já deve tá tremendo por fazer coisa errada. Se eu buzinar ela vai ficar mais atrapalhada. A gente precisa amar o outro, foi assim que Jesus disse, né?”. Concordo em meio a sorrisos.
Estamos há duas quadras do meu destino, por isso seu Vicente acelera a última conversa. “Tem passageiro que pede para eu fazer um caminho. No meio do trajeto ele não lembra se é direita ou esquerda. A gente chuta junto e a culpa é minha. Vê se pode!” Me entrego às gargalhadas. “Felicidade ou infelizmente, eu trabalho com gente”, diz.
Antes de descer dou lhe o que devo e lanço-lhe um último olhar. Desejo-lhe vida longa e, mesmo sem querer, viro as costas e me entrego às escadas costumeiras da TV. Penso em Vicente. Chego à minha mesa, olho os bilhetes grudados, os textos inacabados e os prazos apertados. De olho em tudo que preciso fazer sento e escrevo esse texto,
pois se Vicente estivesse aqui ele faria o mesmo. "O importante é saber viver bem, do nosso jeito".
Ao seu Vicente. Cabelos crespos de algodão e pele negra sem linha de expressão. E se você tem problema levanta a mão. Seu Vicente traz um dente de ouro e tantas histórias, que dá coleção. Ele tem a solução! Uma tremenda e gostosa contradição. Passageiro não!
Por Natália Oliveira

2 comentários:

Lilith (Laila) disse...

Oi linda! Adorei seus comentários no meu blog. É, realmente, acho que vc está certa,... só love! rs!
Passa mais vezes no meu blog. Sempre que posso, estou atualizando.. rsss! Bjus, Laila

Pensamento aqui é Documento disse...

Passo, sim Lala!

E você aqui, sempre que quiser!

Beiiijos