sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Recém

Antes de qualquer coisa, deixe eu contar o cenário da história...
É uma rua não muito extensa. Nela há três pontos, todos finais, marcados por postes finos de ferro com placas, que organizam as filas de passageiros. Um muro branco encardido separa a rua da empresa, construída do outro lado, e também é usado de encosto por quem espera o ônibus para sair. Mesmo cheirando a xixi, há sempre quem se apóie. Há também algumas cabines, mal conservadas, onde ficam os fiscais. Os motoristas sempre aparecem por lá e sempre se atrasam e os passageiros sempre reclamam, mas sempre fica do mesmo jeito.
Enfim. Desci no primeiro ponto, passei pelo vendedor de pipoca, amendoim, batata e balas - ah, porque lá também tem um vendedor – e parei no lugar de sempre, atrás da menina de sempre. A menina. Ela sempre está lá, sempre a primeira da fila. Ela e sua carinha redonda, branca, sem expressão. Ou melhor, até tem expressão, mas é a mesma expressão de um recém-nascido. Se há gente com cara de joelho, ela é um molde perfeito. Têm olhos pequeninos, vivos, pretos e um semblante permanente de choro.
Parei atrás dela e os meus olhos acostumados pousaram em seus cabelos pretos amarrados num rabo de cavalo, elástico azul. Finos e ralos, um pouco rebeldes, mas compridos. Vestia uma calça social escura, posso lembrar porque... bom depois eu digo. Um dia no ônibus sentei atrás dela, o acrílico que separava os bancos da porta refletiam sua testa franzida, era engraçada a recém-nascida. Não engraçada de gozação, mas de gente engraçadinha, mesmo.
Mas voltamos ao hoje. Ela parecia impaciente, como sempre. Sem mexer o corpo, virava o pescoço para trás com as sobrancelhas contrariadas em tentativas inválidas de trazer alguém ali, para dirigir. Permanecia nesta posição por alguns segundos e depois virava para frente, uma perfeita recém-nascida a danada. Eu esperava, até que a calça social dela eu percebi. Um barulho, rápido, picado, estranho para ocasião, mas conhecido. Despertei!
De onde tinha vindo? Quem tinha sido?
Ela se denunciava. Sem graça passava a mão na parte de trás da calça, ligeira e sem mexer o corpo me deu uma olhada. Em silêncio eu respondi “sim, deu para ouvir”. Coisa de recém-nascida solta pum por aí.
Por Natália Oliveira

4 comentários:

Daniel Savio disse...

Hua, kkk, ha, ha, acontece nas melhores pessoas...

Fique com Deus, menina Nathália Oliveira.
Um abraço.

Rose Cianci disse...

HUA,HAU,HAUA,AHUA,AUAUAY. Só você mesmo... rs.
Bjokas

Alvaro Vianna disse...

Ô tadinha! Restará o consolo de não saber que ficará eternizada numa crônica. Seria cômico se já não fosse engraçado.

Beijo, Natália.

Pensamento aqui é Documento disse...

hahuhauuhhuaauhuhauhauhauhahuahu.
E nas piores também.

-
uhahuahuhuauhauhauhauhauhauhauha
Dessa vez não fui eu, Rô. uahuauhahua
-
uhauhahuuahhua
Pois, é! Foi acontecer logo na minha frente?

Beeeijos,