Desci do ônibus e você tava lá, sentado. Mas antes mesmo do motorista abrir a porta já te via, você não, ainda. Me aproximei e perguntei de você a você, sua resposta foi linda como a outra, um sorriso aberto de afastar os dentes, todos marrons. Sem palavras você esticou o braço, fui ao seu encontro e ganhei um presente estalado, gostoso. Estiquei as costas, mas você me chamou de novo, curvei o tronco e com leveza você juntou o meu rosto ao de sua “mama”. Ela abriu os lábios num sorriso, faltava um dente, mas era incrivelmente bonito, como o seu. Sorrimos os três. Atravessei a rua e antes de me entregar a corrida de atraso, olhei para o lado, você abria os braços pedia um abraço.
Certa vez ouvi dizer que a vida é um mosaíco, gosto da ideia e busco organizar as minhas peças. Algumas encontro em mim, outras em minha família, outras nos meus amigos, mas há aquelas que exigem mergulho e disposição para encontrá-las, não são vistas diariamente, é preciso treino, desprendimento. Ainda assim, viver sem elas é como pegar uma concha e se perder em suas cores, sem ao menos notar a beleza da pérola.
Por Natália Oliveira
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