sábado, 26 de junho de 2010
Damas primeiro
O motorista parou um pouco antes do ponto, já que, como de costume, as pessoas não o deixaram avançar. Mesmo com as poltronas cheias, tinham pressa. Nunca entendi isto, subiam às cotoveladas e aos empurrões e no fim paravam juntas em pé. Se fossem um pouco mais serenas não somariam roxos e nem dores colaterais, mas povo brasileiro é povo da luta, né?
O ponto esvaziou quando da esquina o letreiro do Jardim Selma apareceu laranja. Um lago de cabeças se formou na porta, antes mesmo dela abrir. Com alguma distância, eu e uma amiga assistimos saltos, tênis, sapatos sociais e sandálias sumirem escada a fora. Ao ponto que subiam cheios de pressa, um homem se esquivava do desespero alheio com movimentos curtos para trás.
O lago deságuo logo e num movimento mútuo nos aproximamos da porta, eu, ela, ele. Num gesto de cabeça, ela pediu que ele entrasse primeiro, o homem tinha as pernas duras, esticadas, mortas. Ele então esticou o braço, largando parcialmente uma das muletas, fez um gesto para o lado, cortando o ar, e com um sorriso de dentes separados disse “as damas primeiro”.
...Deficiência é a corrente frágil que aprisiona o coração, mas o cavalheiro valente encontrou a gentileza quase rara e mudou minha visão Por Natália Oliveira
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Deficientes somos os que não vemos o mundo bonito que você vê. Obrigado por nos emprestar seus olhos.
Ainda há pessoas doces nesse mundo. Gente que sabe ser gentil.
Ótimo domingo.
"...Deficiência é a corrente frágil que aprisiona o coração... ".
Nóssa! Arrasou, heim amiga. Aqueque que tem olhos para ver - veja...
Bjus.
Rô
Nossa, gostei demais desse texto...
Gentileza genuína ainda existe...
=)
Alvaro.
Obrigada pela visita. Fico feliz quando passa por aqui, =D.
-
Sena, dá tanta alegria de saber disto, né? Que um mundo melhor ainda é possível.
-
Rô!
Tem muita coisa para ser vista neste mundo, né? Como Clarissa de Érico Veríssimo, deviamos descobri-lo diariamente.
-
Ronaldo, fiqueo feliz com sua volta!
Você viu que bacana?
Beijos, queridos
Postar um comentário