quinta-feira, 24 de junho de 2010

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Tarde de inverno com cara de outono. Temperatura regulada a mão, nem quente, nem frio, morno. Sexta-feira, hora de ir embora, no ponto. Feliz pelo clima e pela bendita hora: em qualquer momento ou situação, sempre apaixonada por fim de tarde.
Esperava pelo ônibus quando ele chegou, não notei sua presença. Fitava os carros que subiam depois de virar a esquina, sempre velozes, sempre com pressa. Distraída, levei um susto quando de repente puxou a alça da minha bolsa.
Há alguns dias, luto com os meus pensamentos. Tanto noticiário, tem hora que a cabeça dá um nó. É muito desespero alheio. Sei não, às vezes até penso que o mundo acaba em água, mas nem sempre, às vezes me aciono, me converso, me acalmo.
Distraída, levei um susto, olhei rápido por cima do ombro, ninguém. A bolsa continuava no mesmo lugar. Já calma, olhei para o lado oposto, ele, com auxílio das mãozinhas atrofiadas, se preparava para sentar.
Me aproximei. Tinha os olhos puxados e um rostinho da turma que carrega cromossomo a mais. “Você chegou e eu nem te vi, né?” Sem palavras, esticou o braço em minha direção, cheguei mais perto, encurvei o corpo e deixei que seus dedos bagunçassem meu cabelo. Em sons me fez um pedido, virei o rosto, ganhei um beijo. Retribui e ele sorriu um sorriso bonito, de boca aberta, destes de afastar os dentes.
“Você tá passeando?”, ele sorriu de novo, esticou o braço e apontou uma senhora de cabelos crespos, presos, encostada numa estrutura de metal. “Mama, mama”. Virei o rosto, nossos olhares se encontraram, ela sorriu tímida. Em silêncio agradeci por me compartilhar seu presente.
Logo se levantou, logo foi embora, logo senti saudade.
Por Natália Oliveira

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