Vestia um uniforme azul marinho. O nome da empresa vinha num branco discreto no peito, lado direito. Era igual a todos os outros da equipe de limpeza, gola em v, mangas curtas, botões na frente. Ele, porém, nunca tinha visto ali. Ou melhor, nem ali, nem nos corredores, na saída ou entrada de banheiros, no pátio. Nosso primeiro encontro acontecia naquele momento, no refeitório.
Diferente dos outros dias, todas as mesas estavam ocupadas. A máquina de refrigerante exigia paciência e uma fila extensa separava os recém-chegados da prateleira com bandejas, pratos e talheres. A bancada com o cardápio, construída no centro do salão, estava repleta de pessoas dos dois lados. Enquanto se serviam, dois homens brincavam com a quantidade de comida que um deles colocava no prato. “Tô em fase de crescimento”.
Em toda a extensão do local, indecisos andavam de um lado a outro e acabavam por parar nas filas do fundo, onde serviam opções mais lights e gordurosas. A mulher de cabelos pretos, rebeldes e com luzes passava pelas minhas costas e lamentava a escolha do horário. “Devia ter descido mais tarde”.
A fila andou e dei espaço para o próximo pegar salada. Os tomates estavam vermelhos e a rúcula verdinha. Esperava pelo arroz quando alguém atrás de mim falou alto. “Hei, isto não é sopa!”. Foi a primeira vez que o vi. Estava parado, estático. As pessoas o olhavam. Ele segurava uma cumbuca de porcelana e nela tinha molho de salada. Tomado de vergonha o homem contorceu os lábios, deixando à mostra os dentes mal cuidados. Vestia um uniforme azul, igual a todos da limpeza.
O refeitório estava cheio. Num gesto de nítido desespero levantou a porcelana da bandeja e sem saber o que fazer retornou-a no mesmo lugar. Percebendo o movimento, uma das atendentes recolheu a louça e pediu para que ele pegasse uma outra, limpa. Ele foi, eu sai em busca de uma mesa. Sentada o vi passar com o prato vazio, depois de alguns instantes. Olhei para os seus olhos numa tentativa de lhe dar conforto, ele só olhava para frente, parecia com pressa.