Alcancei o primeiro lugar, unitário, do lado oposto à porta e ao cobrador. Estranhei a falta de gente, no horário de sempre. O espaço entre o pensamento e o gesto de abrir o livro foi interrompido pelo boné, a camisa gasta, aberta até o terceiro botão, de cima para baixo, e a barba no rosto. Antes de passar a catraca virou o rosto para o lado e disse algo à mulher que o esperava, atrás. Voltei às páginas.
O vi, de novo, quando deixou sua cadeira, no fundo, para conversar com o cobrador. Perguntava sobre algumas ruas e no final de uma das perguntas concluiu “onde fica a Band é que eu quero ir.” O homem moreno, preso pela caixa de dinheiro, disse que sabia onde era e que avisaria na hora certa. Ele voltou à companhia da mulher, eu baixei os olhos às linhas.
A alguns metros do ponto, dei sinal. Olhei para trás e vi que o homem olhava curioso tudo que passava velozmente pela janela. Olhei para o lado e vi que o cobrador continuava imerso em pensamentos. Olhei para frente e vi que era hora de descer. A minha e a deles. Ele me ouviu tirando o protetor de ouvido - laranja encardido - com uma das mãos. Respondeu em seguida, descemos juntos. Foi neste momento que olhei para ela.
Alaranjados, fios molhados, fios brancos, fios secos, juntos. Uma faixa de fundo branco levemente florida contornava o rosto, deixando o cabelo todo para trás. Não era liso nem enrolado, eram ressecados, um pouco rebeldes. Não lembro o que vestia, sei apenas que algo era azul. Lembro também do seu sorriso, faltavam alguns dentes, mas os que tinham, se ocupavam bem no espaço.
Caminhamos alguns metros em direção à Rádio e Televisão Bandeirantes – a Band, eu cumprir o trabalho, eles. E vocês?. INSS. Vou conversar na portaria, porque eles são jornalistas e devem saber me dizer o que eu tenho que fazer. Na televisão eles falam direitinho o meu problema, o Datena. O coração apertou. Moramos no Grajaú, há duas horas daqui, mas eu posso ficar até às seis da tarde para resolver o problema do meu dinheirinho. O coração apertou. Será que eu consigo? Antes que eu pudesse, a mulher de azul disse “consegue, Deus já mandou um anjo para gente”, sorriu para mim.
Andamos mais um pouco juntos, Fernando, Enoque e eu. Despedi, desejei boa sorte, sorri. Eles sorriram também, estavam confiantes. Antes de entrar na empresa, um último olhar, ele acolhia os ombros dela e dizia “minha assessora”.
Por Natália Oliveira
4 comentários:
Você fez me lembra algo, as vezes Deus nos faz anjos para os outros e nem notamos este milagre...
Tenha um bom final de semana (é sério).
Fique com Deus, menina Natália Oliveira.
Um abraço.
E que anjo, heim?
Bjokas.
E que anjo, heim?
Bjokas.
Daaani!
=D
É verdade, Deus nos dá de presente anjos maravilhosos! Que teimam em reconhecer a asa deles, nos outros.
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Verdade, Rô!
Maravilhoso!
=D
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Beijos
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