sexta-feira, 2 de abril de 2010

Para onde vão as promessas?

Esperei que se servissem. A máquina de refrigerantes estava bem ao lado da saída e como estavam em duas bloqueavam a passagem. Ao passo que uma enchia o copo, a outra ouvia a resposta da amiga à sua pergunta. “Não como hambúrguer até o final da outra semana, porque vi um motoboy atropelado e prometi a Deus que se ele vivesse faria isto” “E como saberá se ele viveu?” “Vou fazer sem saber”.
Saímos à procura de mesas, eu encontrei uma vazia do lado esquerdo do salão, elas ocuparam as últimas duas cadeiras, já reservadas, por alguns conhecidos, atrás de mim. A história do motoboy caído e a promessa pela vida dele foi replicada aos que não sabiam e o assunto logo mudou.
Saboreando o peixe ao molho branco, sozinha, pensei. Interessante esta história de promessas. Promessa na concepção popular é se privar de algo a favor de outra coisa. Numa linguagem mais clara é sacrifício. A menina se priva de hamburguês e em troca Deus preserva a vida do motoboy. Solidário. Mas que Deus é este? O Deus que eu conheço, que eu experimento em graças diárias é bem maior que isto.
Uma mordida na Ana Carolina para descer o pensamento. Não acredito num Deus sádico, que só ouve orações depois de um bom sacrifício. Qual a importância dos meus chocolates nas obras de Deus? O que Ele fará com eles, ou melhor, qual o resultado de uma abstinência de cacau para a corrida do mundo?
Religião só faz sentido quando muda a sua vida e por meio dela a do outro. No lugar de subtrações, somemos. Já pensou se ela tivesse prometido curtir cada minuto com os amigos, sem se importar se são iguais ou diferentes, sem fazer de pequenas coisas motivos grandiosos para brigas, porque viu um motoboy atropelado e gostaria que ele vivesse. E a amiga perguntaria como saberia se ele viveu e ela diria que não saberia, mas que ele a lembrou o quão frágil é a vida e por isto faria tudo para amar antes que não desse mais tempo.
Sacrifícios são solidários, atos de fé e merecem meu respeito, mas motoboys continuam morrendo e o amor se esvaindo.
Pensemos...
Por Natália Oliveira

4 comentários:

Rafael disse...

Já pensou se ela tivesse prometido curtir cada minuto com os amigos, sem se importar se são iguais ou diferentes, sem fazer de pequenas coisas motivos grandiosos para brigas, porque viu um motoboy atropelado e gostaria que ele vivesse. E a amiga perguntaria como saberia se ele viveu e ela diria que não saberia, mas que ele a lembrou o quão frágil é a vida e por isto faria tudo para amar antes que não desse mais tempo.


é... ja pensou?

Pensamento aqui é Documento disse...

Já pensou, Rafa?

Beijos

Daniel Savio disse...

Menina, por que em vez de fazer uma promesa a toa, por que não procurou ajudar o rapaz?

Fique com Deus, menina Natália.
Um abraço

Natália Oliveira disse...

Pois é, Dan. Pois, é. Tenho dificuldade em compreender religiosidade em excesso, sabe? Respeito, claro. Mas se não promove melhora em sua vida ou na vida alheianão faz muito sentido. São compreensíveis e louváveis as intenções, mas tenho minhas dúvidas quanto aos seus reflexos.

Enfim...

Beijooos