sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quando Matei Aula

Sentadas em uma das mesas da pastelaria, localizada dentro do supermercado, três meninas jogavam “Stop” Dividiam o espaço com mochilas e cadernos, por isso e pelo horário desconfio que matavam aula. Vê-las me fez lembrar da primeira e única vez que realizei a tão sonhada aventura de escapar da matemática. A professora era uma mulher rígida, de corpo roliço e cabelos grisalhos. Usava óculos redondo e um avental “salmão”. Os alunos tinham medo dela, em sua presença reinava um silêncio profundo e atípico para uma sala de 4ª série.
Sofria. Não levava o menor jeito com números e, por sacanagem ou falta de sorte, sempre era escolhida para fazer os exercícios na lousa. Sem ter a menor ideia por onde começar, inventava uma lógica, sempre sem pé nem cabeça, e com as mãos suadas de nervoso rabiscava no quadro. “Claro que estava errado”, ela se alterava. Eu disfarçava como podia o constrangimento, enquanto as maçãs do rosto inflamavam. Ao final de cada aula, ela sempre deixava lição de casa. Com as fórmulas, sentava no chão do meu quarto, apoiava o caderno na cama e nos embalos de colheradas de Nescau tentava resolver os problemas, sempre sem sucesso.
Naquele dia, sabia que não tinha feito os cálculos e que provavelmente seria chamada para resolvê-los. Aproveitei a troca de professores, peguei minha mochila e corri pelo corredor afora. Tinha cinco minutos para resolver o que faria com a minha liberdade. Desci os vários lances de escada e segui para o portão que separava o pátio, da rua. Trancado! Analisei o muro. Não era alto, mas tinha cerca e se eu ficasse enganchada lá? E se chamassem a professora de matemática para me tirar? Quantos exercícios eu teria que fazer para...despertei. Precisava me esconder, antes que alguém me encontrasse!!!
Corri até o banheiro próximo. Entrei rápido, me enfiei em uma das cabines, tranquei a porta, fiquei em pé no vaso e, logo em seguida, me encolhi inteira. Minhas costas encharcavam a camiseta. Cabulava. No auge dos meus 10 anos, eu finalmente cabulava. Era simplesmente genial, tinha escapado de todo mundo e agora cabulava! Independência ou morte! Revolução! Eu era muito evoluída, pensava.
Cinco minutos depois na mesma posição, deixei o banheiro com câimbras, lamentei a ideia e pedi para entrar na aula.
Por Natália Oliveira

6 comentários:

snagay disse...
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Rose Cianci disse...

Muito engraçado, Naty. Até consigo imaginar a cena - rs, rs, rs.
Bjus.

Alvaro Vianna disse...

Comédia e drama, Natália.
Meu filho tem 10 anos. Não sei se ele é vítima de algum professor tirânico. Mas também não consigo imaginá-lo tomando uma atitude corajosa, assim. Mesmo que tivesse que voltar atrás alguns minutos depois.

Comovente!

Beijo

Pensamento aqui é Documento disse...

UHAUHAUHAUH. Hoje dá para dar risada, mesmo. =)

*

Tenho certeza que minha mãe também não me imaginava. Aliás, nem sei se foi ato de coragem, mesmo.

Corajosa eu ficava nos sonhos, quando eu interrompia a aula e gritava com ela, os outros alunos faziam o mesmo. Sempre acordava num misto de satisfação e medo.

Seu filho, infelizmente, deve ter professores tirânicos, como você já teve. É assim sempre.

Daniel Savio disse...

Mesmo as menores aventuras é necessário coragem, mas estas aventuras pequenas são só o principio das cada vez maiores aventuras...

Fique com Deus, menina Natália Oliveira.
Um abraço.

Pensamento aqui é Documento disse...

É verdade, Dan. São os primeiros passos, os primeiros atos...

Beijos