Por Natália Oliveira
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Buraquinhos
Não foi estampado nas páginas dos jornais e nem pautou uma coletiva, mas foi uma descoberta cientifica e valiosa. Foi algo que percebi depois de anos vividos, momentos passados, dias inteiros mal compreendidos, foi algo que encontrei num momento sozinha, pensando comigo.
Posso contar a você se jurar não falar a alguém que tem um amigo que tem um amigo. Posso contar se não deixarem publicar ou discutirem em estudos de universidades ou motivar conversas entre velhinhos de asilos. Promete?
É que...Promete? É que...Olha lá em? É que meu coração tem buraquinhos. Pronto, falei. Muitos deles. Tantos que tudo que eu sinto vaza. Todos os sentimentos que me invadem espalham. Os buraquinhos não deixam o coração guardar tudo e tudo que eu sinto minhas mãos, meus olhos, minhas pernas e até minha barriga sentem também.
Eu não posso ver um amigo querido, um livro bem escrito, uma lembrança inesperada, um sonho acompanhado, que o meu coração bate forte e vaza. Ele não consegue guardar tudo e logo minhas mãos tremem, os olhos marejam, as pernas bambeiam e a barriga aperta. Tem muitos buraquinhos esse meu coração! Pronto, falei.
Agora cumpre sua promessa e não conta pra ninguém. Pq. se falar a alguém que tem um amigo que tem um amigo, alguém pode querer me pegar para operar e eu quero continuar com os buraquinhos, quero continuar sentido o que meu coração sente em todos os cantinhos, em tudo de mim.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Tá topado
Você não sabe quanto tempo te esperei. Quantas noites de sono, olhos inchados, boca seca de tanto desabafo. Você não sabe quanto tempo te esperei aparecer num cavalo branco, cheio de flores, chocolates e corações dourados. Sonhei com os seus olhos, com seus abraços e até com os nossos passeios num lago calmo.
Sonhei com o seu sorriso e o teu afago. Imaginei as suas mãos junto as minhas tremulas de emoção ao receber o pedido de namoro inesperado. Sonhei acordada com o sonho nosso, sonhei com uma noite ao seu lado. Sonhei.
Até que um dia te encontrei todo invertido. Você não tinha os cabelos penteados e nem o sorriso alinhado. Você era diferente do que quis. Era tímido, nada sociável e nem tinha um cavalo branco, só dinheiro para improvisar um lanche mal recheado. Você não era o meu sonho, era o lado mais torto, mais atrapalhado.
Na busca por um perfeito esbarrei em você e na batida de ombros as ilusões, os sonhos e os desejos certos caíram como cadernos desenhados. Olhamos para baixo e passamos por eles num passo só, rumo ao boteco de cadeiras de plástico, onde joguei coca-cola de canudo no seu rosto nada barbeado.
E desde o nosso tropeço que descobri a falta de graça em encontros. Gostoso mesmo é o tombo, a topada. A sutileza tem mais a ver com princesas e estrelas em coroas e tudo isto não vai bem com água, grama e guerras de travesseiro. Delicadeza enrosca, embaraça complica. Bom mesmo é ser menina com unha feita e bola no pé, mulher com batom na boca e rosto sujo de tinta. Feminina em tudo, mas moleca na maior parte.
Desde então te escolho todos os dias para ser a soma do meu incerto. A multiplicação do meu todo torto. Te escolho para ver a minha garganta gigante numa risada indiscreta. E confesso, desde que te topei, o meu mundo tá mais inacabado do que antes e este, certamente, é o motivo da minha felicidade constante.
Na busca por alguém se apaixone perdidamente por você. E quando encontrar, não se esqueça: ainda que sejam diferentes, todo mundo tem um torto para oferecer.
Por Natália Oliveira
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