Lembro que eu estava feliz e que acordei, ouvindo o barulho que o bule fazia. Pulei da cama, cai nos braços da minha mãe e logo estava tomando café preto com bolo de fubá. Respirei fundo, senti o cheiro de mato molhado, cortei mais um pedaço de queijo e sai correndo porta afora. Meus chinelos ficaram para trás, o sorrido do meu pai, que me olhava pela janela de madeira, também. O vento batia em meu rosto e me dava a sensação de frescor em meio à temperatura quente. A poeira subia e, em alguns momentos, tomava conta dos meus lábios.
Depois de alguns metros cheguei a casa dela, que ao me ver abriu os braços. Desviei das árvores de frutas, das gaiolas vazias e me entreguei ao abraço. Enquanto matávamos a saudade de um dia, as galinhas nos cercavam. Elas batiam as asas. Percebemos o convite e logo entramos na roda de dança. Nós, elas, os periquitos, vaquinhas e bezerros. Mexemos as mãos e os pés no ritmo das águas da cachoeira.
Já saciadas de alegria deixamos o quintal. Entrei na sala pequena, cheia de cadeiras de madeira. Ela entrou logo depois com alguns pedaços de giz. Os seus dedos ágeis se encarregaram de passar o conteúdo na lousa improvisada e eu, como de costume, enchi as folhas do caderno colorido com desenhos de seu rosto. A bronca risonha veio logo, eu precisava prestar atenção, mas não conseguia, era bom demais para ser verdade. Aquela vida era boa demais, SIMPLESmente boa demais e a única coisa que eu tinha vontade era de eternizá-la.
Depois de algum tempo o rádio relógio tocou, avisando que era hora de voltar. Ela sorriu, eu também, era um sinal. Caminhamos até a bicicleta que repousava junto à cerca, que protegia as margaridas e as rosas. A noite já tinha caído, o tempo estava fresco e bem azul. Pedalamos devagar, permitindo que as borboletas amarelas nos encontrassem e tocassem os nossos rostos. Ao passo que movimentávamos as pernas vagarosamente cantarolávamos algumas canções sertanejas. A plantação de alface estava há dois passos de nós, sinal que a minha casinha estava a três. Descemos. Dei um beijo melado nela e ....Acordei. Era SIMPLESmente bom demais para ser verdade.
Por Natália Oliveira
domingo, 26 de abril de 2009
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Até Logo
O tempo está quente e seco. Tipo daqueles dias que nem leques e águas de cachoeira conseguem refrescar. Mesmo assim minhas mãos estão gélidas e tremulas. Estou nervosa, com medo, não sei se conseguirei. Não sei. Desço do ônibus e sinto o vento refrescar meu rosto. Antes de dar o primeiro passo, uma breve prece. Começo a caminhada até o lugar que me tirou o sono. Ansiedade. O portão branco e nem tão alto está a minha frente, espero o funcionário abri-lo com cuidado e entro no lugar que me marcará por toda a vida.
Atravessei o corredor, olhando os sapatinhos arrumados ao lado da porta. Parecia um convite para um mundo mais sereno e, naquele momento, era. Se nada desse certo, os sapatinhos ainda estariam ali, a minha serenidade também. Não demorou muito para que eu achasse a nova mesa, a nova sala, as novas pessoas. O novo trabalho, os novos desafios, as novas histórias e a nova maneira de viver. Não demorou muito para eu começar encher os ouvidos da minha mãe de conversas cheias de alegria, entusiasmo.
Passei a agradecer em todas as orações, passei a acreditar que era bom demais para ser verdade. E foi. Por um ano, um dos meses mais gostosos que vivi. Os dias mais solidários, mais animados, mais “acreditados” que realmente vale a pena viver. Foi importante. Foi maravilhoso. Foi decisivo! Passei a ver o mundo por outro ângulo.
Gostaria de lembrar com vocês o bem que me fizeram. As delicadezas, os detalhes, as miudezas que me trouxeram mais vida. Como, certamente, não conseguirei enumerar os sorrisos, os “bom dia”, as piadas, as risadas gostosas e cheias de barulho, os abraços, as correções, as palavras de incentivo, a oportunidade, o espaço... Me limito a dizer muito obrigada! Foi muito bom estar com vocês!
Hoje o tempo está quente e seco e mesmo assim minhas mãos estão gélidas e tremulas. Estou nervosa, com medo, não sei se conseguirei, mas preciso tentar e vocês são responsáveis por isso. Eu fui envolvida na rede de entusiasmo, de garra, de força e determinação que vocês jogaram. Não dá mais para fugir, já não sou mais quem eu fui. E mesmo que nada dê certo, eu sei que os sapatinhos ainda estarão por ai, a minha serenidade também.
Obrigada por tudo, de coração!
Até logo...
Por Natália Oliveira
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Brasil: Mostra a sua cara!
É divulgado. Brasil receberá a Copa do Mundo de 2014. A informação é do Comitê Executivo da Fifa ao site Globo Esporte. O caderno de encargos, cheio de normas e solicitações, já foi entregue ao país. A responsabilidade de suprir todas as necessidades do evento, como estádios completos e transporte, é verde e amarela. As Olimpíadas de 2016 causam especulações. Futuro incerto. Brasileiros de braços abertos. Sem respostas, ainda.
A notícia vem e pelos quatros cantos do território, visto como terra da bunda, do samba e do futebol, é inevitável os questionamentos: e a capacidade? O Brasil consegue receber um evento desse tipo? Consegue! Claro que consegue. Ninguém abre a janela do quarto quando está nu. Ainda mais quando o público é o mundo. Ousados, mas não ingênuos. Jogos dessa amplitude são vitrines, ninguém quer aparecer liquidado nelas.
E afinal, estádios, quadras, piscinas e pistas se constroem em meses, ou não? A tradição que envolve a dificuldade e a falta de dinheiro surge somente das propostas nacionais que pedem hospitais, escolas e saneamento básico para o povo. Somente delas. Receber estrangeiros, montar o circo, esconder a falta de incentivo ao esporte, negar que perdemos atletas todos os anos para países mais estruturados e acreditar que engana. É baba. Já virou profissão.
O transporte vai funcionar como o patriotismo brasileiro. Sempre de quatro em quatro anos. Sempre diante de um truque ilusionista que traz momentaneamente a solução de todos os problemas. A nação veste a camisa, pinta o rosto e coloca a bandeira no quarto, que cega e propaga a ideia de que “aqui tá tudo certo. A gente tem dinheiro de sobra, dá até para fazer Copa e quem sabe as Olimpíadas? Batem no peito e dizem “meu país”, enquanto andam no ônibus da 8º frota nova, comprado com o dinheiro do Metrô. Um país novo. Ê terra maravilhosa.
O evento passa e os anfitriões limpam a casa, enquanto buscam o que sobrou para vê se dá para remendar. Tiram daqui para pôr ali, mas sem preocupações, afinal com cara ou sem vara, o pozinho eventual, alucinógeno está ai, para tirar toda a atenção da mais nova peraltice brasileira. E sem especulações! O povo queria festa, não queria? E a teoria afirma: os meios justificam os fins. Passos longos e sem direção, mas passos longos.
Para os preocupados, um tranqüilizante. O Brasil não fará feio. As expectativas serão superadas, as exigências cumpridas e as normas respeitadas. Afinal de contas, estádios, quadras, piscinas e pistas se constroem em meses, ou não? A tradição que envolve a dificuldade e a falta de dinheiro surge só das propostas nacionais, que pedem hospitais, escolas e saneamento básico para o povo. Só delas. Ê Brasil.
Por Natália Oliveira
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