terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Mãezinha

Eu falava da minha tia e da liberdade que ela me dava.... Eu lembro das inúmeras vezes que andei na chuva, dos barrancos de barro, dos pequenos machucados e das gostosas gargalhadas. Lembro dos mergulhos na piscininha, dos chicletes do chão, que eu comia, e dos outros que você trazia em caixas. Lembro da minha felicidade ao assistir Sérgio Malandro e do cansado gostoso sentido após cada acampamento. Parece que foi ontem que inventei histórias infantis na gangorra da escolinha ou que dividi doces escondidos atrás das árvores do EMEI. Faz quanto tempo desde o dia em que eu comi o doce de leite mais gostoso da minha vida em um posto de gasolina, na volta do Ibirapuera? Lembro do cheiro gostoso do seu trabalho, gostosissímo da Lacta, e da paz que me dava apenas por vê-los ali, naquela rua ali. Lembro da empolgação, que vinha antes da compra das balinhas de hortelã, que eu trazia para acabar com a sua tosse, das tranças embaixo do chuveiro e das hidratações com abacate. Lembro das suas incansáveis tentativas de me colocar uma calça jeans, de me convencer a jantar antes de comer brigadeiro e de entender sempre o que nem eu entendo. Lembro do curso de mecânica que você nunca fez e do seu jeito sempre esperto de sair das saias-justas. Da sua maneira delicada de cuidar de crianças, como eu admiro isso em você. Da sua gostosa risada e de suas histórias, que alegram meu dia. Dos seus cabelos cheirosos e finos. Nem sempre loiros, mas inconfundíveis. Lembro do seu jeito alegre, forte e ao mesmo tempo tão frágil. Lembro do seu sorriso. Lembro da sua sede e fome de viver. Da suas mãos gordinhas e do seu coração gigante. Eu lembro de você quando encontro a parte boa em mim! Lembro do seu talento, que te permite ser boa em tudo o que faz. Da sua vontade, da sua garra, da maravilhosa, inesquecível e perfeita mãe que você é! Eu lembro de você em tudo que conquisto. Eu lembro de você em tudo que eu almejo, que eu sonho! Você é o meu sonho! Meu sonho mais bonito, mais bonito de viver! Eu sou você! Eu falava da minha tia e da liberdade que ela me dava.... Só a gente vai entender.! Por Natália Oliveira

Eu quis...

E por um momento eu quis ser aquele velhinho. Eu quis aquela simplicidade de levar documentos na sacola. Eu quis ser aquela ausência de modelos perfeitos, que estampava sua calça grande para o seu corpo pequeno. Eu desejei ser mais leve. Eu desejei ter mais paz. Eu desejei ser a serenidade que invadia o ambiente e acalmava o meu coração. Eu quis.
Por Natália Oliveira

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Quem sou eu?

Eu começo como a maioria começa: é difícil falar da gente, né? E aí eu paro e penso: Como assim difícil? Já parou para pensar que você passa mais tempo com você do que com qualquer outra pessoa? Desde que você nasceu você vive com você. Mesmo que se case ou decida a solidão. Mesmo que viaje ou prefira o velho sofá. Mesmo que faça o que quiser com quem quiser, mesmo assim. Ninguém conseguirá tirar essa desvantagem. Não há como. Nem a sua mãe. Nem seu marido ou seu melhor amigo. Ninguém. E por que é tão difícil falar da gente? Talvez seja por que passamos muito tempo com a gente, mas mesmo assim não ficamos com a gente. Passamos a vida olhando para os outros, para o jeito do outro, para a vida do outro e esquecemos de olhar para o nosso jeito, para a nossa vida. Vemos sempre além de nós e não para nós. Quantas vezes você dedica à percepção de seus pontos fracos? Quantas vezes por semana você senta em uma calçada qualquer para reparar a sua roupa, as suas unhas, o seu vocabulário? Quantas vezes? Você já se sentou numa cadeira de lanchonete com alguns conhecidos para comentar como você é “tolo” diante de algumas situações ou como você se “acha demais” diante de outras? Já parou? Eu também não. Por isso é tão difícil falar da gente. Por que no fim das contas a gente não se conhece tanto assim. A gente conhece muito do outro, mas da gente mesmo, nada. E quando perguntam: Quem é você? A gente não sabe. E não sabe mesmo. A gente dedica nosso tempo às imperfeições do outro, como saber então da gente? É eu sei que você dirá uma centena de coisas. Que eu sou radical demais, que eu generalizo demais, que eu sou simplista demais. Talvez eu seja tudo isso mesmo. Tô começando a me descobrir. Vê se tenta também, é bom! Por que mesmo que às vezes pinte uma ponta de “eu por eu” e a gente fala, reconhece, confessa, ainda é pouco comparado ao quanto a gente “conhece” do outro. Antes de terminar não me refiro a nenhum outro. Refiro-me a mim mesmo. Parei para pensar em mim, na minha vida, no meu jeito. No meu lado incompleto, que às vezes me consome. Eu só inverti os papéis, o que quase nunca faço. E antes mesmo que eu precise voltar ao trabalho, eu desejo que esse não seja mais um momento “eu por eu”. E tomo a liberdade de desejar isso a você também. Por Natália Oliveira