terça-feira, 26 de agosto de 2008
Atenção senhores passageiros
Eu não conheço um lugar mais propício para histórias boas como em ônibus. A graça já começa nos nomes, né? Menininha, Cantinho do céu, Capelinha, olhando os nomes dá até vontade de viajar. Imaginem um lugar que fica num cantinho do céu e que a menininha reza na capelinha. Fala a verdade?
E quando você senta ao lado de alguém que está cheirando mal. Têm vezes que o odor está tão forte, que você se confunde. Não sabe mais se é o outro ou você que está com o desodorante vencido. Por via das dúvidas, você dá uma espreguiçada, ao mesmo passo em que fingi que algo te chamou a atenção, por coincidência do mesmo lado do braço erguido, e disfarçadamente tira as dúvidas.
Sem contar quando a lotação está cheia e só tem um lugar vazio. E o pior, o lugar é atrás do motorista e tem um aviso bem grande “Uso preferencial”. Você senta e no próximo ponto sobe uma grávida ou um idoso, ou o pior: Os dois. Você espera eles passarem o bilhete único e fica torcendo “vai para trás, vai para trás, vai...”. Eu não finjo que estou dormindo, não tenho coragem...
Agora nada se compara com o terrível grito: Vai desce cobradooooooo! Há quem prefira: Ô cobrado, vai desce! Não podemos esquecer daqueles que são adeptos do “Motorixta, quéro desce”. Tá bom, tudo bem, não vou esquecer dos vendedores de balas de hortelã, que refresca o hálito e alivia a garganta. Também temos a paçoquinha por apenas 0,25 centavos pessoal...
E por aí vai.
Trair, coçar e histórias de ônibus é só começar...
Por Natália Oliveira
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Procura-se!
Cheguei no ponto e não achei. Minha carteira não estava na bolsa. Voltei correndo para meu trabalho com a esperança de encontrá-la dentro de uma das gavetas de minha mesa, ou embaixo delas, mas nem no banheiro a deixaram. Fui furtada! Meus documentos e minhas estrelinhas no chaveiro. Tudo. Levaram tudo.
Voltei para casa grata por conseguir ligar para minha casa, e triste por lembrar das filas do Poupa Tempo que deveria encarar. A primeira coisa que fiz foi ir à delegacia, fazer o tal do BO. Consegui fazer só no dia seguinte, porque como disse o guarda: “Nós temos dois ‘fragrantes’”.
“Tudo bem, eu volto”. E voltei. Sentei em uma das cadeiras do lugar e esperei até o papel que relatava o ocorrido ficar pronto. Ouvindo o barulho da impressora, viajei em meus pensamentos, imaginei como causei irritação no “malandrinho”, minha carteira não tinha dinheiro e nenhum tipo de cartão.
Meu pai, que me acompanhava, mexia a perna contundida, no último jogo de futebol, impacientemente, pisando em meus pés inúmeras vezes. Recolho minhas pernas e olho para o lado, vejo uma mulher com cinco crianças pequenas, uma de colo. Ao mesmo passo em que eu a percebo, o homem do balcão também a vê e logo grita:
- Seu caso?
- Meu marido me expulsou de casa – diz envergonhada.
- Dorme na casa de parente. A assistente social só vem segunda!
A mulher olha para a filha mais velha, aparentemente com doze anos, como se procurasse uma resposta.
A impressora continua fazer seu chiado.
- Procura seu advogado! – Ele grita – você não tem?
- Tenho – diz com um fio de voz.
Ela se cala e eu quase sinto sua dor...
O escrivão some atrás do balcão...
Eu sumo em minha casa...
E a mulher some nas calçadas...
No centro da cidade, o homem com uma placa no peito, entre anúncios de emprego, fazia um apelo: “Mulher Procura Dignidade!
Por Natália Oliveira
Voltei para casa grata por conseguir ligar para minha casa, e triste por lembrar das filas do Poupa Tempo que deveria encarar. A primeira coisa que fiz foi ir à delegacia, fazer o tal do BO. Consegui fazer só no dia seguinte, porque como disse o guarda: “Nós temos dois ‘fragrantes’”.
“Tudo bem, eu volto”. E voltei. Sentei em uma das cadeiras do lugar e esperei até o papel que relatava o ocorrido ficar pronto. Ouvindo o barulho da impressora, viajei em meus pensamentos, imaginei como causei irritação no “malandrinho”, minha carteira não tinha dinheiro e nenhum tipo de cartão.
Meu pai, que me acompanhava, mexia a perna contundida, no último jogo de futebol, impacientemente, pisando em meus pés inúmeras vezes. Recolho minhas pernas e olho para o lado, vejo uma mulher com cinco crianças pequenas, uma de colo. Ao mesmo passo em que eu a percebo, o homem do balcão também a vê e logo grita:
- Seu caso?
- Meu marido me expulsou de casa – diz envergonhada.
- Dorme na casa de parente. A assistente social só vem segunda!
A mulher olha para a filha mais velha, aparentemente com doze anos, como se procurasse uma resposta.
A impressora continua fazer seu chiado.
- Procura seu advogado! – Ele grita – você não tem?
- Tenho – diz com um fio de voz.
Ela se cala e eu quase sinto sua dor...
O escrivão some atrás do balcão...
Eu sumo em minha casa...
E a mulher some nas calçadas...
No centro da cidade, o homem com uma placa no peito, entre anúncios de emprego, fazia um apelo: “Mulher Procura Dignidade!
Por Natália Oliveira
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Mãe
Um dia desses estava procurando nomes para minha próxima crônica. Foi então que pensei no meu: Natália. Gosto muito, mas imagino que minha mãe gostava mais. Porque entre todos os nomes que ela viu, ela escolheu o que ela achou o mais bonito.
A mesma coisa que ela fez com meus penteados de cabelo, quando eu era pequena, com os vestidos. E isso tudo me dá uma certeza que sempre serei levada com ela. E é bom saber disso. Principalmente agora. Especialmente nesse mundo turbulento e complicado. Olhar para alguém que tem seus olhos ou sua boca, que tem seus jeitos ou seu cabelo, é confortante.
Andar nos mesmo passos ou longe deles. Ouvir as mesma histórias que se repetem ou que se diferenciam. São frases, palavras, ou ao nosso ver simplesmente nomes que só elas sabem o quanto de significado isso traz.
Andar nos mesmo passos ou longe deles. Ouvir as mesma histórias que se repetem ou que se diferenciam. São frases, palavras, ou ao nosso ver simplesmente nomes que só elas sabem o quanto de significado isso traz.
Por Natália Oliveira
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