domingo, 17 de julho de 2011

Central


A questão central não se divide em certo e errado, mas em escolher e não escolher. Em decidir ou não decidir. Os abismos existem e durante toda a vida nós devemos optar por uma das mil maneiras que temos de atravessá-los. Ou de não atravessá-los. A verdade é que a gente precisa decidir. E ai, automaticamente, a gente decide quem estará ao nosso lado.

Por que no fundo, ninguém se afasta de ninguém. A distância nasce no virar de pés, nos horizontes extremos, nas prioridades contrárias, nas importâncias invertidas. É a moeda de troca. É o momento que você decide o que é realmente valioso para você, o que é prioridade, o que continua e o que fica para trás. Então você decide os pesos das suas renúncias e se responsabiliza pela falta que elas te causam. É tudo muito simples.
Sempre existem escolhas e elas são sempre nossas.


Por Natália Oliveira

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pedaços de Caminho

Mergulho no meu inteiro e recolho todos os pedaços que um dia me foi todo. Junto todos eles aos meus pés e, com a paciência que tomo de volta da correria que passa depressa, tento encaixá-los um a um.
Mudo a ordem, jogo a frente para o verso e inverto as pontas, mas eles se jogam para um lado e para outro, recusando-se à velha entrega. Tento por várias vezes seguidas devolvê-los à forma que sempre tiveram, mas eles simplesmente me negam.
Tomada pelo desconforto, de repente sou a criança que num instante conhece e reconhece a necessidade de crescer, mas que não sabe, ainda, ao certo como. Aliás, o que não sabe é como preencher os vazios, se é que existe alguma necessidade de preenchê-los.
Rendo-me à água que vem para renovar o mergulho no inteiro e da cascata se fazer um novo ciclo. Permito-me escorrer, enquanto tudo se dissolve como água com açúcar. E em um instante contemplo o riso salgado nascido no berço divino da transformação.
Dor e felicidade se confundem. Saudade e desprendimento se laçam e eu aciono o super-herói esquecido, que cura levemente a carne viva. Aos poucos me liberto, me arrisco, forço-me e lanço um último olhar para a correnteza que leva os pedaços antigos embora.
Recomponho-me com as pernas bambas, mas dignas de uma nova caminhada. E num fechar de olhos agradeço todos aqueles fragmentos que um dia me foram escudo.
Enxugo a última gota que dá aos lábios o gosto salgado e desejo boa sorte para o futuro, porque como avisado foi, os meus pés já estão calçados. A respiração me enche o peito todo e com a força que me renova empurro a porta com um chute só. O mundo inteiro se apresenta, como uma miniatura.
Soluço de susto e neste momento sou exatamente metade segura, metade desconhecido, metade medo e inteira vontade.
Apresento-me e não me desculpo pela demora, nunca fui de acelerar os meus processos. Em resposta ele apenas me olha e em um silêncio falado, me ordena: explore-me.
Um brinde aos ciclos que me encantam os caminhos da vida.
Por Natália Oliveira

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ali

E naquele exato momento sentiu que tudo que precisava aprender sobre a vida estava exatamente ali, naquele instante preciso. Tudo moldado em um pedaço de madeira, como um porta-retrato: suco de maracujá, pães torrados e mortadela. Tudo misturado em um em uma única pose, em um único gesto.

Tudo exatamente ali: pai, mãe e ela.

Por Natália Oliveira