Passados 14 dias do ano novo, digo: 2010 foi um ano bom. Consegui olhar para dentro de mim mais de uma vez e dessas visitas ao interior nunca voltei de mãos vazias. Em uma delas trouxe as armaduras usadas diante de pessoas tão frágeis quanto eu. Trazê-las à margem me custou um pouco, eram pesadas e machucavam meus braços, mas mesmo assim, bravamente – ainda que no momento me sentisse fraca– persisti.
Jogá-las no lixo não me pareceu difícil, doloroso mesmo foi perceber que, mesmo com o corpo nu e sem estoques, ainda carregava na pele a proteção. Arrancá-la encharcou meu vestido de lágrimas e o meu coração de vazio. Por um tempo, que me pareceu infinito, senti o chão desprender dos meus pés, mas sobrevivi com toda a humanidade que me cabe, caindo, ralando os joelhos e curando-os com merthiolate e band-aid.
Hoje consigo resistir às capas de super-herói, mesmo quando estão em liquidação, e mandar meus pensamentos acusadores para uma colônia de férias, quando passarem dos limites. Posso ouvir meus gritos internos, mesmo quando o barulho exterior é alto e me respeitar, mesmo quando o mundo prefere nomear esse gesto de egoísmo. Consigo me enxergar claramente, sei das minhas rosas, mas também reconheço meus espinhos e é nesse bosque que passeio em busca de respostas para a minha doce, cítrica, confusa e pulsante existência.
Por Natália Oliveira