Por Natália Oliveira
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
No meu armário
Arrumei meu guarda-roupa nesse final de semana. Não que fizesse muito tempo desde a última organização, mas a bagunça parecia enraizada. Sempre que abria uma das portas um potinho de alguma coisa caía em meu pé. O dedo latejava e eu prometia: “amanhã eu arrumo”. O mesmo ritual quase todos os dias.
Acabei encarando a tarefa no sábado, logo depois de acordar. Tomei alguns goles de café com leite e deixei a mesa, prometendo uma conversa mais tarde com a minha mãe. Meu quarto estava iluminado pelo sol primaveril.
Joguei todas as roupas em cima do lençol verde florido e comecei. Comecei por achar blusas que não me serviam mais, mas que a ausência de coragem não tinha me permitido doar.
Eram curtas, apertadas e estagnadas em gostos antigos. Não me cabiam mais, mas eu as conservava, porque um dia me couberam. Era medo de deixar o que um dia foi agradável. Medo de reconhecer os ciclos, o fim.
Era medo de descartar o número. Era mais fácil deixá-las por último, do que não deixa-las ali. Era difícil não pensar nos momentos em que me aqueceram ou me livraram do calor. Era apego do mais real e do mais vazio. Eram só roupas. Ou não? Eram lembranças de pessoas que já não estavam mais, o fio da lembrança se segurava nas linhas, na cor. Mas era lembrança? O vivido tinha ido, tinha vivido do jeito bonito que conseguiu e foi embora. O dono cresceu. Não cabia mais, era hora da despedida. Em duas levas deixei tudo para doação. Voltei ao meu quarto iluminado pelo sol primaveril e reorganizei o que ainda fazia parte de mim, o que ainda me cobria por inteiro, que não me exigia contorções ou falta de ar.
Antes de fechar as portas, olhei tudo. Vazios estavam espalhados em vários lados. Empurrei a maçaneta e caí na cama satisfeita, melhor os vazios a preencher, do que sobras enganosas. Melhor!
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7 comentários:
Nossa Nati! Gostei! xD....
As vezes eu tbm mecho no meu armário, lá tem coisa velhas que a gente não quer jogar fora, justamente com medo da mudança, tem coisas que nos trás dor... e outras muito alegres... ^^
xD..Mas as vezes é preciso dar uma arrumadinha.
Ebaaa!!! Post novo! rs
Dizem que quando organizamos nosso guarda-roupa é porque estamos com a vida organizada! Vai saber!?!
Qualquer tipo de limpeza nos satisfaz, nada de sobras!
Abraço!
Ná! Bom tê-la por aqui. No final, acho que sempre é bom dar uma arrumadinha, né? É preciso tirar o pó, abandonar os costumes enraizados, respirar o novo! =)É difícil, mas é preciso.
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Aninha, querida! Coincidência ou não, a arrumada no guarda-roupa foi inspirada pela organização interna. Quando consegui libertar algumas coisas de dentro, as de fora se soltaram com mais facilidade.
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Beijos, meninas
Parabéns pela atitude, amiga! Realmente é muito gostoso quando chegamos a este ponto: tirar o velho para dar lugar ao novo "... e caí na cama satisfeita, melhor os vazios a preencher, do que sobras enganosas. Melhor!". Muito melhor mesmo!!! Eu é que estou me preparando psicologicamente para fazer esse faxinão - na casa inteira, antes do Ano Novo.
Bjinhus e curta este novo recomeço!
E é o tempo exato do ano para se fazer coisas assim. Tanto mais por uma Natália.
Curioso que no trabalho é que fizemos isso, arrumar armários, nessa semana.
Simbolismo muito apropriado.
beijos, querida!
Rosinha!
=)
Sempre que faço arrumações lembro de você, rs. É sempre muitoo bom.
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Tempo exato, Álvaro. Nos embalos do fechar dos ciclos!
=)
Beeeijos
Espaço a se preencher, mas o mais importante é o do coração...
Fique com Deus, menina Natália Oliveira.
Um abraço.
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