sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Saber Viver
A noite é fresca e sem nuvens. Tipo de clima em que permite calças compridas, malhas leves e prendedores de cabelos dos mais variados. Existem dois extremos neste ambiente: mar e prédios, o bar Saber Viver de Ubatuba fica exatamente no meio. A estrutura dele é simples, não há portas e nem chão de cimento. As mesas, que dão lugar a sucos, cervejas e bitucas de cigarro, estão fincadas na areia branca. Os grãos são pequenos, mas unidos são fortes para suportar o plástico e seda para receber os pés.
Uma placa escrita a mão explica aos clientes que não há comidas, também pudera, como fazê-las? Não há cozinha e nem pias. Existe apenas um balcão improvisado entre as macieiras que, por sorte, cresceram em volta do bar e, por mais sorte ainda, uma ao lado da outra. A madeira cheia de lascas se mistura com os troncos das árvores, há quem diga que é uma coisa só. Sendo ou não, é ali que clientes generosos deixam o dobro do valor cobrado pelos serviços.
Que serviços? Os garçons são os clientes bronzeados e os clientes generosos. Tudo ao mesmo tempo. Os sucos e cervejas vêm com eles em carros de primeira linha, em bicicletas de tinta gasta e em sacolas de mãos calejadas. Gente de todo tipo, que paga para trabalhar. Tipo de toda gente que gasta para dividir. Eles alternam: ora bebem, ora servem. O Zé? Olha! Somente olha e contempla o que provoca.
Dizem que mesmo que o mundo inteiro fosse paz, nada chegaria perto do que o Saber Viver é: a união de felicidade, maresia e cheiro de sal molhado, aroma que refresca e arrepia. O som de gargalhadas é música constante, que não pára. As palavras ditas são sem sujeitos. Apenas graças sem fatos. Ali ninguém tem família original. Pelo menos ali não. Todos são pais, irmãos, tios e avós uns dos outros. Mais que amigos desconhecido, abraços são distribuídos. O que os move é a gratidão de ter o paraíso na terra.
O relógio grande e sem ponteiros marca os primeiros dez minutos de sábado. Como uma ritual, todos se levantam. Tornozelos cheios de miçangas, panturrilhas tatuadas e coxas a mostra se movimentam de um lado para o outro. São corpos gordos e magros. Negros e pardos. Em seus rostos queimados um sorriso largo. Alguns com dentes, outros não. Quem se importa?
Estar no Saber Viver é sinônimo da sensação de criança quando ganha brinquedo novo e do idoso quando percebe alguém mais carinhoso. É tudo que a vida tem de bom numa roda-gigante. É doce na mão de criança. Jovens em uma grande ciranda. Gostoso do mesmo jeito que rever amigos, bater um papo, não ter inimigos. Quando juntos parecem grãos, força e seda. É a euforia de ver gente nova que chega. Gente que muda. Gente que de repente aprende! Aprende o caminho de Saber Viver.
Por Natália Oliveira
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Bobeira crônica
Hoje eu não sei de nada. Hoje eu não quero saber de nada. Vou dormir o dia inteiro, vou andar descalça na grama, vou comer na cama, vou ficar de pijama. Hoje não to nem aí. Vou largar tudo, vou deixar o mundo, vou rir a beça, vou virar moleca. Hoje não vou dizer “sim, senhor”, hoje não vou trabalhar com ardor. Hoje eu não vou, posso?
Não tô a fim! Não vou comer marmelada, não vou sai para “gandaia”, não vou para lugar nenhum. Se eu precisar? Não vou. Vou falar que não vou, vou gritar que não gosto, vou torcer o nariz. Sou eterna aprendiz. Vou fazer cara feia, vou parecer uma freira. Não vou! Não Vou! Adianta?
Não sou obrigada a comer marmelada, a fazer mulecada, a saber de nada. Não quero e não vou. Só se precisar. Aí eu vou. Se pedir com jeitinho, se falar com carinho, se me der um beijinho. Aí eu vou. E vou com vontade, porque gosto de roupas leves, de sambas leves e de vestir Levis.
Não tem nada com nada? Eu sei. Eu sou assim! Tim tim por tintim. Quer saber de uma coisa? Eu estou no meu trabalho, ganhando meu salário, ouvindo desagrado. Estressei? Venho aqui, escrevo um monte de bobeira e fico aliviada. O que acha? Marmelada? Não! Goiabada.
"Como posso querer que meus amigos entendam as coisas loucas que passam pela minha cabeça, se eu mesmo, não entendo?" Salvador Dali.
Por Natália Oliveira
Nem faz muito tempo, ou faz?
É do tipo de coisa que só o tempo cura. A gente já nasceu curada. Uma mistura boa de bobeira, risadas e baladas. Nem faz muito tempo, ou faz? Pediram para gente sorrir, mas alguém chorou. Agora não sei se foi eu ou você. Ou nós duas? Sei lá. A gente se confunde demais. Muito diferentes e iguais. Aprendemos a viver em caminhos opostos mais sempre a postos. Chamou? Não, só pensei. É...é você.
Nem faz muito tempo, ou faz? Que eu deixei de ser criança e desaprendi a insistir? Não! Não deixei de te amar. Ainda a amo muito. Mas estou fazendo a lição de casa das pessoas que amam passam. Respeitarei, esperarei. O amor cura a mágoa. E mágoa cala, né? Eu entendo. Deixarei as explicações, de novo elas. Você sabe, sente.
E também quem mandou crescer? Rápido demais. Que pena! Não podemos mais voltar. Nos impediram, não deixam. E logo a gente que não sabe lidar. Logo a gente! Te decifro da cabeça aos pés, e você é eu sem ninguém desconfiar. Uma cabeça e a outra os pés. Somos duas, somos sinônimos, um atropelo de sinônimos. Por isso espero. Mas vê se vai logo! Às vezes dói, dói demais.
É do tipo de coisa que só o tempo cura. A gente já nasceu curada. Uma mistura boa de bobeira, risadas e baladas. Nem faz muito tempo, ou faz? Pediram para gente sorrir, mas alguém chorou. Agora não sei se foi eu ou você. Ou nós duas? Sei lá. A gente se confunde demais. Muito diferentes e iguais. Aprendemos a viver em caminhos opostos mais sempre a postos. Chamou? Não, só pensei. É...é você.
Por Natália Oliveira
Assinar:
Postagens (Atom)