segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Olharei

Pela necessidade de uma nova casa, de um novo caminho, de um novo sentido, sem a mínima vontade de abandonar os velhos, no ar Olharei.

Uma estante, uma moldura virtual, para reunir os cantos, as gentes, as ruas que me dão forma, força e fé.

Te espero prum olhar, tá?





Por Natália Oliveira

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Caos

Eu ainda vou lamentar tudo que aconteceu durante um bom tempo. Vai doer cada vez que a lembrança atravessar a porta e se apresentar bagunçando tudo que, mais uma vez, eu tento deixar no lugar. Ainda não me acostumei com essa escuridão repentina que me obriga a tatear o meu próprio mundo e me faz uma visitante no meu próprio espaço. Por ser inteira, sou inteira corda bamba e não sei como sarar. Preciso de paz, preciso de pé nessa altura toda, até aprender a voar.
Por Natália Oliveira

domingo, 13 de maio de 2012

Era felicidade?


Ela sentou tentando equilibrar a xícara de café com leite e o pão de ontem esquentado no fogão. A sacola que guardava as coisas da reforma caiu aos seus pés e ela precisou dar um pequeno chute para conseguir puxar a cadeira. A folha em branco a esperava, quase ansiosa. Há tempos não era tocada. Há tempos as palavras não chegavam. Há tempos as bailarinas não dançavam. Era uma dor disfarçada de saudade, que por um bom tempo ela soube lidar culpando, sem raiva, o cansaço. Era diferente. 


Era domingo. E ela tentava arrumar os livros encaixotados na estante do próprio quarto. Arrumava-os por ordem de tamanho e gostava quando, por coincidência, as cores se completavam. Revê-los, senti-los e decidir em que pedaço daquela extensa madeira ficariam, depois de quase um mês, era como encontrar uma felicidade de pés descalços e moletom, em um dia de inverno qualquer - e beijá-la no rosto para que sentisse a gratidão pela visita. Naqueles amontoados de palavras moravam gentes para fazer uma vida toda valer muito e de verdade. 


Parou antes de terminar, impulsionada pelo peso que lhe pressionava a testa, os olhos e o nariz – depois de tanto tempo a poeira era uma certeza -, mas não antes de acariciar o orgulho que envolvia seu peito ao ver aquilo tudo ali, junto. Entre tantas escolhas, era bonito ter tanto encaixe pro seu desarrumado. Era tudo tão normal, tão humano, mas ao mesmo tempo tão possível de sentir. Será que alguém, além dela, entenderia? Podia, até, abraçar tudo em pensamento e dizer em voz alta que daria certo, independente do que fosse para dar. Era felicidade?


O vapor que saía da água fervente tocava seu rosto, fazendo com que o ar passeasse sem esforço, de novo, pelo seu nariz. O aroma do café subia e dava a ela a certeza de que se tivesse uma competição de cheiros, o elegeria facilmente como um dos seus preferidos. Talvez por sentir que tratava-se de uma das heranças que a mãe deixaria para sempre à família. O café, em várias horas do dia, como um convite para uma boa conversa, ou um silêncio compartilhado. Como um elo. Um momento para ter ajuda no trabalho de fazer do inverso o verso em companhia. 


A lembrança adocicou sua boca, enquanto a colher passeava pela xícara, tentando diluir os pequenos grãos de açúcar que rodavam sem parar no fundo da louça marrom. Deixou a cozinha tentando equilibrar tudo, ao passo que a pantufa de lã e o piso liso tentavam brincar de algo perigoso. Empurrou as caixas de papelão com as rodinhas da cadeira e lambeu os dedos lambuzados de requeijão. O gesto fez com que seus lábios se abrissem em um sorriso, que só ela sabia o tamanho real...


Naquele momento sentia. Sentia mais do que comia, pensava ou qualquer coisa. E não era alegria, era algo sereno...era felicidade? Era Tranquilo.  Era como ter paz por não esperar, por não TER que esperar. Era longe do futuro, distante da ansiedade, da expectativa, dos machucados e até da cura. Era bom. E um bom que dá vontade de amar ainda mais o melhor do outro e o de si. Era interno, era inteiro, era conhecido, era recebido de novo, depois de tanto tempo. Era quase palpável. Era perto dela, era perto do mundo, era perto do bem, era perto do colo e do sorriso de Deus. Era feliz. Era, sim, felicidade.


Por Natália Oliveira

terça-feira, 3 de abril de 2012

Jardim

Eu vou voltar e vai ficar tudo bem de novo. Mas agora preciso de um tempo para costurar tudo isso que soltou, entende? Sem culpas, sem mágoas, sem pesos mais. Na verdade, o que realmente existiu foi uma dorzinha pequena e chata, que já escorregou para longe nos últimos pedidos de desculpas. Agora tá tudo bem. Bem mesmo! Mesmo! Mas eu ainda quero ir... por que eu preciso aproveitar, de verdade, essa oportunidade de esticar tudo que me foi pequeno, sabe? Talvez você não entenda, nesse momento, e eu entendo por que nem eu sei direito. Mas você vai saber, você vai sentir quando as minhas rosas ficarem mais coloridas, mais fortes e mais bonitas...quando a gente se encontrar, de novo, no meu jardim.

Por Natália Oliveira

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Retrospectiva

Muita coisa poderia ter sido diferente...
Vários planos ficaram pelo caminho e mais uma vez vou ter que refazê-los, achando espaço entre tantos outros que ficaram para trás. Deu uma preguiça danada, quando não era para dar. E tive disposição para começar e concluir coisas que poderiam, ou melhor, nem deveriam ter acontecido. Cheguei atrasada, perdi oportunidades, desfiz planos, abandonei caminhos por medo e por desleixo. Descobri meu lado chato, intolerante, e briguei feio com ele, até fazer as pazes de novo. Redescobri o prazer do exercício físico e logo entendi que nunca teremos uma boa relação. Ou teremos? Quem sabe.
Aprendi a ter coragem para romper ciclos, para aceitar o doído e para esquecer todas as vantagens de ser forte. Apresentei-me - ou me foi apresentado – à minha parte escura e foi uma das coisas mais bonitas que poderiam ter feito por mim esse ano. Conheci lugares, conheci pessoas, juntei várias gentes numa gente só. Admirei o quadro bonito que faz a singularidade compartilhada, sem podas. Fiz novos amigos, reforcei os laços com os velhos e aprendi que estarão comigo para sempre, se der. Prometi a mim e aos outros uma liberdade próxima e senti o gosto doce da palavras "tentei".

Do mais. Continuo achando que o tempo é curto. E que viver é tão simples que a gente confunde tudo. E que por isso a gente perde tempo demais tentando entender, quando a vantagem de ser gente é sentir.

Por Natália Oliveira

domingo, 17 de julho de 2011

Central


A questão central não se divide em certo e errado, mas em escolher e não escolher. Em decidir ou não decidir. Os abismos existem e durante toda a vida nós devemos optar por uma das mil maneiras que temos de atravessá-los. Ou de não atravessá-los. A verdade é que a gente precisa decidir. E ai, automaticamente, a gente decide quem estará ao nosso lado.

Por que no fundo, ninguém se afasta de ninguém. A distância nasce no virar de pés, nos horizontes extremos, nas prioridades contrárias, nas importâncias invertidas. É a moeda de troca. É o momento que você decide o que é realmente valioso para você, o que é prioridade, o que continua e o que fica para trás. Então você decide os pesos das suas renúncias e se responsabiliza pela falta que elas te causam. É tudo muito simples.
Sempre existem escolhas e elas são sempre nossas.


Por Natália Oliveira

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pedaços de Caminho

Mergulho no meu inteiro e recolho todos os pedaços que um dia me foi todo. Junto todos eles aos meus pés e, com a paciência que tomo de volta da correria que passa depressa, tento encaixá-los um a um.
Mudo a ordem, jogo a frente para o verso e inverto as pontas, mas eles se jogam para um lado e para outro, recusando-se à velha entrega. Tento por várias vezes seguidas devolvê-los à forma que sempre tiveram, mas eles simplesmente me negam.
Tomada pelo desconforto, de repente sou a criança que num instante conhece e reconhece a necessidade de crescer, mas que não sabe, ainda, ao certo como. Aliás, o que não sabe é como preencher os vazios, se é que existe alguma necessidade de preenchê-los.
Rendo-me à água que vem para renovar o mergulho no inteiro e da cascata se fazer um novo ciclo. Permito-me escorrer, enquanto tudo se dissolve como água com açúcar. E em um instante contemplo o riso salgado nascido no berço divino da transformação.
Dor e felicidade se confundem. Saudade e desprendimento se laçam e eu aciono o super-herói esquecido, que cura levemente a carne viva. Aos poucos me liberto, me arrisco, forço-me e lanço um último olhar para a correnteza que leva os pedaços antigos embora.
Recomponho-me com as pernas bambas, mas dignas de uma nova caminhada. E num fechar de olhos agradeço todos aqueles fragmentos que um dia me foram escudo.
Enxugo a última gota que dá aos lábios o gosto salgado e desejo boa sorte para o futuro, porque como avisado foi, os meus pés já estão calçados. A respiração me enche o peito todo e com a força que me renova empurro a porta com um chute só. O mundo inteiro se apresenta, como uma miniatura.
Soluço de susto e neste momento sou exatamente metade segura, metade desconhecido, metade medo e inteira vontade.
Apresento-me e não me desculpo pela demora, nunca fui de acelerar os meus processos. Em resposta ele apenas me olha e em um silêncio falado, me ordena: explore-me.
Um brinde aos ciclos que me encantam os caminhos da vida.
Por Natália Oliveira