domingo, 13 de março de 2011

Retrato


É a paz que às vezes se apodera da minha alma.

Com os dentes recém-caídos ela desenha um sorriso enquanto eu tento descobrir o que carrega nas mãos sujas de chocolate e terra. Aperta os dedidinhos mostrando, sem perceber, que ali nada sobreviveria, mas nego acabar com o momento. Chuto coisas absurdas: “carro?”, “bola?”, “patins?”. Ela arregala os olhos a cada tentativa e balança a barriguinha que nunca viu chuchu, numa risada de último volume que me desarma inteira. Solto as últimas coisas que prendem a alegria e digo em voz alta: “viver é breve e é bom, né?”. Ela olha meus olhos marejados e abraça com os dedinhos melecados de marrom minhas pernas. Observo-a de cima. Cabelos embaraçados, calça levemente surrada, coração pulsante e falta de vontade de controle. Agacho, estonteante ela pede para ficar. Arrumo um espaço no centro de tudo e ela, com o sorriso aberto, me pede: "me acolha para sempre e me chame de paz. Sua paz”.
Ao Criador da minha!



Por Natália Oliveira