sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Velhinhos
Os velhinhos têm os cabelos brancos, bem branquinhos, prontos para receber uma cor. As crianças são como os cabelos deles, recebem qualquer cor. E mesmo quando não recebem nada não deixam de ser bonitas. É a essência delas e deles. É a natureza. É o que os distingue de jovens e adultos. É o neutro. Que espera receber.
Quando fazem algo de errado, não há como julgá-los ou incriminá-los. São doces demais para isso. Se ousar criticá-los, perceberá olhos marejados, um coração partido e um olhar de dúvida. “Afinal o quê eu fiz?”. Eles são inocentes e vivos demais para entender nossas confusões.
As bocas dos velhinhos têm cheiro de leite, assim como as das crianças recém-nascidas. Quando falam, um cheiro gostoso invade as narinas de quem os observa. É o cheiro deles, que dispensa chicletes de menta e pasta de dentes. Para quê? A boca sem dentes, normalmente, é pequena, mas cheia de Histórias Bobeiras para contar.
Eles não comem muito e nem dão tanto trabalho assim, então porque os colocam em asilos?. Depois de qualquer ameaça ficam mudos, fecham os olhos, prometem não contar mais os desejos do coração. “Não leve”. Ninguém ouve. O colocam no carro, não explicam, não dizem nada, apenas dirigem em direção a casa branca.
O coração dele chora. “Afinal o quê eu fiz?”. Antes de fecharem o portão um olhar de suplício e mágoa, que não permite a raiva entrar. “Eu devo ter feito tudo errado”. Nessas horas esquecem tudo. E ele que deu a vida perde ela. E ele que cuidou agora é abandonado.
Atrás várias cabeças de algodão. Ele olha e percebe seu destino. Ficará ali para sempre. Lembranças invadem, as meninas eram pequenas e não queriam jogar o tênis furado. “Eles entenderam errado?”, pensa. “O que tá velho joga fora.”. Eles são inocentes e vivos demais para entender nossas confusões.
Por Natália Oliveira
"Inventaram a expressão casa de repouso para abrigar velhos supostamente cansados da vida quando é o mundo que se cansou deles".
Por Eliane Brum
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