sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ainda Mais de Você

Tenho me divertido com seu jeito de achar saudade em tudo. Até no que não viveu. Mal sabe como era dura aquela época, ditadura, censura, violência. E eu já te falei que hoje você pode ouvir boas músicas e dizer o que pensa sem pagar o preço pela escolha, mas você insiste que gostaria. Fala que sentiria na veia o gosto de quem não passa em branco pela vida.
E mesmo quando digo que sua liberdade de pensar teria consequências, você me diz que adoraria ouvir a batida dos corações parceiros ao pintar o rosto de verde e amarelo. Fala que trocaria suas bonecas por um tempo, por uma faixa e um xarope para garganta.
E os seus conselhos? Não canso de te perguntar de onde tira. Afinal, mesmo que quisesse, não experimentou uma vida inteira, então como tem resposta e jeito para tudo? Você me faz rir, sabia? Às vezes parece ser dona do mundo, da verdade e mesmo quando compra sonhos malucos sempre vende sem esforço, a preços baixos, mas com juros que transformam.
E quando vejo em você alguns pedaços da criança que foi me ponho a pensar. "Sorte daqueles que conheceram sua banguela." Contemplaram um sorriso ainda mais alto, vazado pela falta de dentes. E imagino o quanto era gostoso ouvi-lo, porque te rendeu um apelido, né? Sorriso. Ter apelido assim é bem bonito.
Eu só sei que tenho gostado ainda mais de você. Tenho gostado mais do que gostei, quando pensei que gostava demais. Gostado de olhar para você e ver como você gosta ainda mais de você.
Natália Oliveira